sábado, 25 de setembro de 2010

O pato, a morte e a tulipa

"Viemos ao mundo para amar a vida."

Pensamos ser difícil ensinar Filosofia a crianças... Talvez não o seja. Talvez seja fácil por demais. Porque as crianças têm uma imensa capacidade de assimilação, de absorção daquilo que a elas é interessante. Difícil, então, não deve ser ensinar. Filosofia, Astronomia, Matemática, Literatura, não importa, a criança é capaz de aprender. Desde que, claro, você desperte a sua atenção e a mantenha interessada. Só que isso, prezado, é tarefa de profissionais.

O pato, a morte, e a tulipa em questão não são – mas o são – os personagens dos livros de Erlbruch. E não o são porque oficialmente não os li. Até tentei, não tinha na loja. Mas são, vieram dos livros e subiram no palco, delicadamente apropriados pela Érica [Lima]. Pato e Morte estão dentro da história que a Érica quer contar. Que é uma história sobre contar histórias. Ou, ainda, sobre como encantar as crianças.

Confesso que, enquanto ator, sou um clown frustrado. Apesar de nunca ter trabalhado ou desenvolvido meu clown, [acho que] sei que o meu personagem vai parar na linhagem dos tristes. Imagino meu clown como aquele palhaço horrível das gravuras da década de 1970. Assistir a um trabalho de clowns, para mim, é exercício que demanda paciência, desprendimento e desapego.

Mas que história é essa? [a peça de teatro] começa justo com dois clowns. Dois atores totalmente seguros de seu trabalho, e eu pensando em quanto de pirueta e acrobacia, e morrendo de inveja do condicionamento físico dos dois, e trabalho de cena ia ter de ver. Até que.

Até que tudo deixa de ter importância e, assim, na história de dois clowns contando uma história sobre contar histórias – que, juro, pensei que ia ter de passar óleo de peroba no rosto, fazer cara de paisagem e dizer que "é interessante" –, de repente a gente vê que o circo todo é montado para – perdão o trocadilho infame – cairmos como patinhos na rede armada pela autora [a Érica Lima], diretores [Marcelo Xavier e a própria Érica], elenco [Marcus Vinícius e Rubens Ramalho]. Somos plena e ludicamente encantados, adultos e crianças da plateia, para mergulhar em águas um pouco mais profundas. Como marinheiros que ouvem o canto das sereias.

Uma vez nós, público, devidamente rendidos, os atores nos têm na palma da mão. E abusam, dando vida a um Pato – que de pato, fisicamente, só tem o nome – e à inevitável, aquela que está sempre ao nosso lado (e por isso nunca se atrasa), a Morte. E nos fazem presenciar esse encontro, um tanto quanto inusitado, e a refletir sobre o sentido da vida. Cada qual de seu modo, adulto, criança, pato, somos levados a pensar na grande questão de para quê (ou por que) vivemos. E a resgatar a lembrança da finitude da vida. Tudo com uma grande (e abusada) delicadeza...

A Érica [Lima] deveria escrever mais. Deveria atuar mais também, mas isso fica entre eu e ela. Mas que história é essa? está pronta para começar. Se eu fosse você aproveitava a jornada... até mesmo sem levar criança alguma. Afinal, o espetáculo definitivamente não é só para elas.

Mas que história é essa?, uma produção do grupo Real Fantasia, está em cartaz no Galpão Cine Horto, dentro do projeto "Semana da Criança no Teatro". A estreia é hoje, dia 25 de setembro, às 17h. Eu sou chique, a Érica passou lá no meu trabalho e me deu um convite para a pré-estreia. Se não der tempo de você ir hoje, tem amanhã também, e nos dias 2 e 3 de outubro, no mesmo horário. A entrada (inteira) custa R$20.

E a tulipa? Bem, a tulipa...

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Leitura dinâmica

Preciso aprender a
escrever parágrafos
menores

(estou para desenhar esse haicai no meu caderno há 15 dias)

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Um pouco de história da arte

O ano era 1970, abril. Eu, logicamente, só viria a nascer alguns anos depois. Meus pais, vizinhos que brigavam desde a infância, já se conheciam, bobear até namoravam, não sei. Aqui em Belo Horizonte acontecia uma exposição chamada Objeto e participação, com uma manifestação paralela chamada Do Corpo à Terra. Eram os anos de ferro, o ecologicamente correto ainda não estava em alta, e os artistas mais engajados aproveitavam o contexto social para se manifestar como podiam.

"Objeto e Participação consistiu numa exposição coletiva, realizada no saguão do Palácio das Artes com trabalhos experimentais, abertos à participação do público, de Franz Weissman, Tereza Simões, José Ronaldo Lima, Humberto Costa Barros, Guilherme Vaz, Carlos Vergara, Ione Saldanha, Odila Ferraz, Cláudio Paiva, George Helt, Orlando Castaño, Manoel Serpa, Manfredo Souzanneto, Terezinha Soares, Yvone Etrusco, Nelson Leirner e Marcelo Nistche. Do Corpo à Terra foram propostas conceituais realizadas durante três dias no parque e nas ruas da cidade. Os artistas não apresentaram obras, mas realizaram várias ações: Cildo Meireles queimou galinhas vivas em homenagem ao sacrifício de Tiradentes; Dilton Araújo cercou o Parque Municipal com uma corda; Lotus Lobo plantou sementes; Luis Alphonsus queimou uma faixa de pano de 30 metros; Eduardo Ângelo rasgou vários jornais velhos; Luciano Gusmão fez um mapeamento do Parque, dividindo as áreas livres das áreas de repressão; [Artur] Barrio jogou trouxas de carne e osso no Ribeirão Arrudas; Lee Jaffe executou a proposta de Oiticica, desenhando uma trilha de açúcar na Serra do Curral e eu fiz apropriações fotográficas de vários locais da cidade. Do Corpo à Terra foi a última e mais radical manifestação coletiva da vanguarda brasileira" (Depoimento de Frederico Morais a Marília Andrés Ribeiro no livro Neovanguardas: Belo Horizonte – Anos 60. Belo Horizonte: C/Arte, 1997).

A parte em que o Cildo Meireles queimou galinhas vivas foi grifada por mim. Não sei até que ponto queimar galinha era normal e aceitável na década de 1970, mas lembro o choque que tive quando assisti a Marília falando isso como se fosse a coisa mais natural do mundo. Como se ele estivesse descascando uma cebola. Ó gente, ele queimou galinha mas era arte. E ok, era arte mesmo, havia uma proposta por trás daquilo tudo que tinha muito a ver com o estado da sociedade civil da época. Se lembro bem da aula, apesar do choque que deve ter causado, não tivemos manifestações de populares pulando no fogo para salvar as galinhas da fogueira. Galinhas D'Arc. Quarenta anos depois Cildo é um artista plástico bastante conhecido, só deve queimar galinha no forno de casa, e virou verbete na Enciclopédia Itaú de Artes Visuais. Na onda do politicamente correto, a queima de galinha está disfarçada sob o título da obra (Tiradentes - Totem-monumento ao Preso Político).

Obviamente uma manifestação artístico-política desse nível não tem lugar na sociedade atual. Com internet e globalização na jogada, um pobre coitado costa-riquenho pretendente a artista, Guillermo Habacuc, lá na Nicarágua, caiu na besteira de, em pleno 2007, pegar um cachorro de rua e prender dentro de uma galeria de arte sem água nem comida até o cachorro morrer. O erro do Habacuc (atenção: eu tenho duas cachorras e a minha vontade é sim de pegar o tal artista e deixar preso numa corda até morrer de fome e sede, só que a sociedade já o execrou o suficiente) foi de data e, principalmente, de falta de inteligência. O pateta achou que com pleno PETA e movimentos de defesa dos animais na parada a sua arte (e ok, é arte sim, mas uma arte totalmente fora do contexto mundial atual – e me reservo o direito de não saber nada sobre a situação política nicaraguense quando da instalação) seria aclamada. Caiu no esquecimento e provavelmente a próxima obra "do gênero" que ele fizer vai acabar em paulada na cabeça (dele). Há versões e versões para a história do cão. Pesquisando links para esse texto vi, no G1, que o cachorro teria fugido e só ficou sem alimentação durante o período da instalação. Enfim, o caso do cachorro é apenas elemento ilustrativo para o parágrafo seguinte.

29ª Bienal de São Paulo, 2010. Gil Vicente apresenta a série Inimigos, desenhos nos quais ele se representa matando líderes mundiais, como o Papa, a Rainha da Inglaterra, o presidente Lula, George Bush e por aí vai. Desenho, traço. Nem dá para dizer que é hiper-realismo, as imagens são basicamente grafite sobre papel. Instaladas em um espaço criado para se pensar a arte, para se mostrar arte contemporânea. Não tem galinha queimando, não tem cachorro passando fome. Mas tem, claro, polêmica (também conhecida como o ato de falar mal para que uma coisa besta vire sucesso). Entraram com um recurso no Ministério Público, alegando que a obra faz apologia ao crime e deve ser retirada da Bienal. Será que deve mesmo?

Fazendo uma pequena retrospectiva (recente) da arte cinematográfica, vou elencar dois títulos: Dogville e Bastardos Inglórios. Dois filmes, cada um do seu jeito, que levam o espectador a um processo catártico, em um final coroado com assassinatos brutais embutidos em cenas maravilhosas que me fizeram sair do cinema de alma lavada. Mataram Hitler na ficção. Mataram todos os habitantes de Dogville, bem feito, eles mereciam. Daí me pergunto, deveria o Ministério Público intervir, alegando que os filmes fazem apologia à violência? No cinema nacional, o filme Tropa de Elite encerra com um policial dando um tiro na cara de um bandido rendido. Isso não é crime também? E qual a diferença entre imagem em movimento e grafite sobre papel, alguém me explica? Copiando o blog da Barbara Gancia:

"Que [Flávio] D’Urso [presidente da OAB/SP que entrou com a ação no MP] ache impróprias imagens mostrando o artista pronto para executar figuras públicas como a rainha Elizabeth, FHC e Lula ou diga que a obra incita a violência não significa absolutamente nada, tem efeito prático zero, não vai dar em nada, não traduz o desejo da sociedade, revela apenas a ignorância e a falta de compreensão de uma pessoa que não estudou o suficiente para se manifestar sobre arte."

Eu, brincando de ministro, daria ao proponente a seguinte resposta:

"Prezado senhor, agradecemos o seu pedido. No momento, porém, temos mais o que fazer e não demonstramos interesse em avaliar obra de arte. A competência dessa avaliação cabe à curadoria da exposição, que deve ter lá seus motivos para pendurar os quadros. Reclame com eles se não gostou, faça uma petição na internet, passe uma corrente para os amigos, diga para ninguém entrar ou, como já virou moda no Ibirapuera, pegue uma lata de spray e piche os quadros. Só não reclame depois se for preso. Da nossa parte, cremos que o MP não tem competência para instituir censura de qualquer espécie, e é perda de tempo censurar aquilo que está rodando a torto e a direito na internet exclusivamente por sua causa. Caso haja interesse em ocupar seu tempo ocioso com alguma atividade proveitosa, gentileza entrar em contato com a Maria, a atendente do cafezinho. Temos xícaras e pires a lavar. Sem mais."

terça-feira, 21 de setembro de 2010

60 Minutos (voo solo em três atos)

Ato 1: 2008
No meio das atividades que desempenho todos os dias está o papel de professor de inglês. Não sei se gosto. Gosto de dar aulas, é bom. Porém como não sou muito chegado em gente burra, a minha paciência enquanto professor fica bastante reduzida. Entenda: ninguém tem obrigação de saber inglês, aulas existem para ensinar. Só que existem professores e professores e, se tenho o dom, deve ser mais para administrar grupos de discussão. Ou não, até porque, paradoxo, opto sempre por trabalhar com iniciantes. Também não gosto de corrigir prova, preencher diário de classe, toda aquela burocracia que acompanha o ato de lecionar em si.

Sem muita viagem, esse é um texto em três atos, ainda estamos no segundo parágrafo e eu não disse a que vim, enquanto professor vez por outra a gente tem treinamentos, eventos geralmente patrocinados por alguma editora de livros didáticos da área, nos quais a gente vai para ouvir alguém falar em inglês sobre como dar aulas de inglês, receber propaganda, concorrer a um kit de livros, encher a barriga no coffee-break e, claro, mostrar aos outros professores concorrentes o quanto você sabe falar em inglês. Rebelde como sou, geralmente nesses eventos respondo em português a qualquer idioma que falem comigo.

Em 2008, o último dos eventos a que fui, um autor paulistano especializado no ensino para crianças comparava o processo de aprendizagem a uma corrida. Ilustrou a fala com fotos dele mesmo participando de uma prova de rua, imagens do homem devidamente trajado para a competição, se alongando para a prova, durante a corrida e, claro, chegando no final. Tirando o mico que o cara pagou, em algumas fotos ele fazia caras e bocas de ator de cinema mudo, achei a ideia interessante. Quem participa de provas de corrida (amadores, deixemos os corredores profissionais para lá) sabe que o objetivo é concluir a prova respeitando os próprios limites. Por isso todo mundo ganha medalha. Ensinar um idioma é dar a pista para a pessoa correr dentro de sua capacidade. Importante é o percurso; a chegada é consequência.


Ato 2: 2009
Comecei o ano de 2009 com 101 quilos e terminei com 79. Não se animem, ganhei peso depois disso e tenho um longo caminho em busca dos 75 ideais segundo a matemática. No começo do ano não dei aulas, por isso não frequentei palestras. Dei um tempo para cuidar de coisas básicas como emagrecer, diminuir o colesterol, a capa de gordura e evitar um diagnóstico precoce de diabetes. Enfim: manter-me vivo com um mínimo de decência e sem dar trabalho a ninguém.

O processo de retomada da saúde física envolveu dieta, controle médico e exercícios. Tive de colocar na cabeça que academia passaria a fazer parte da minha rotina pelo resto da vida, que chá verde não é o fim do mundo (beba quente: frio ou morno amarga horrores), que produtos integrais são nossos amigos e que não, não pode comer doce todo dia. Também tive de enfrentar alguns monstros como peitoral voador, elipticon, banco extensor, remo e graviton. Depois da tortura medieval dava para pelo menos ligar a esteira e, como sou um rapaz comportado, o povo da academia me deixava em paz até mesmo para ficar mais tempo que o permitido para todos.

Foi nessa época que aconteceram eventos, não lembro exatamente em que ordem. Um dos estagiários da academia me viu na esteira, disse que eu tinha “uma boa arrancada” e que deveria correr na rua. Eu ri, não muito obrigado. Outro estagiário resolveu criar um grupo de corrida e me chamou, não muito obrigado. A minha médica, Dra. Ângela, disse que eu devia correr na rua, eu ri de novo e disse que ela estava louca. Uma amiga minha começou a correr e vivia me chamando e eu, não, não tenho treinamento para isso. Mas uma vez tentei fazer uma inscrição: esgotada. Interpretei como sinal de não é para mim, principalmente depois de ouvir dentro de casa que não tenho condicionamento físico para isso, que minha família sofre do coração e que eu poderia ter um troço no meio da corrida, cair duro e morrer.


Ato 3: 2010
No segundo semestre de 2009, mais ainda no começo desse ano, voltei a dar aulas toda noite ou quase. Hoje meu horário útil enquanto professor, de segunda a quinta, encerra às 20h. Sábado de manhã até o meio-dia. Com isso dei uma desandada geral na academia, na dieta, voltei a ter o chocolate amargo como amigo e companheiro de colégio. Resultado engordei. Fim, vamos recomeçar. A Dra. Ângela até entendeu algumas de minhas razões mas o fato real é que dei mesmo uma desanimada. Acontece.

Mas, como cada um tem seu tempo, resolvi que não tenho bolso para ficar trocando de guarda roupas toda vez que mudo de corpo e que eu tinha de novo de tomar vergonha na cara e deixar a moleza de lado. Retomei, em parte, a academia, indo sempre que dava. (Um aparte: o mais difícil de ir à academia não é fazer os exercícios e sim romper a barreira que separa o seu lugar de origem, casa, trabalho, da academia propriamente dita. Uma vez lá dentro, acredite em mim, você faz tudo normalmente.) Como fiquei parado um tempo, a professora me deu "bomba", voltando para os aparelhos básicos e alternando com atividade aeróbica como se fosse um circuito. Praticamente não posso parar muito além dos 20 segundos de intervalo entre uma série e outra, dói pra caramba, mas é preciso fazer o corpo voltar a lembrar que ele se mexe e não fica só jogando fazendinha nas horas vagas.

Conversando com a mesma amiga que vivia me chamando para correr na rua, ela tanto insistiu para eu participar de uma prova (revezamento) com ela, que enfim cedi. "Põe logo meu nome nessa coisa então e me dá sossego", falei. 5 milhas, ou 8 quilômetros. Em casa foi o caos: você vai morrer, tem de preparar mais um ano, vai cair duro no chão, não vai dar conta. Fiquei mesmo com medo, sou um cagão. Mas fui. Ok, fui porque bateram uma aposta que eu não ia, e quer me fazer fazer alguma coisa é dizer que eu não vou. Teimoso, eu? Imagina.

Domingo passado acordei seis da manhã. Seis e meia na rua, carona pro local da corrida. Que começou as oito, mas como eu era o número dois tive de esperar minha amiga terminar a primeira parte do percurso, pouco mais de uma hora. Nove e dois lá estava eu com uma rua pela frente, me orientando exclusivamente por um tanto de cavalete e fita zebrada. Com música no ouvido, um podcast que baixei na última hora (duração: 1h40, achei que dava para acompanhar a corrida toda sem mudar de faixa), e meus tênis. Só. Correndo. Com o vento frio na cara. E achando bom.

A foto comprova: corri. Gostei. E como estou escrevendo dá para deduzir que não morri. Hoje fui na Dra. Ângela com a medalha (todo mundo que termina a corrida ganha medalha, lembra?) e ela, toda feliz, falou para eu fazer a volta da Pampulha ano que vem, a louca. Por enquanto vou devagar. Dia 23 de outubro tem a night run, inscrevi para os 5km. Três a menos que domingo, achei melhor assim. 10km é muito para os meus atuais 88kg. Enquanto isso vou treinando, não posso fazer feio. Coisa interessante é que meu rendimento na rua foi maior na esteira: 8km em quase 60 minutos. Achei que fosse ser diferente. Sobraram 40 minutos do podcast.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Cría Cuervos

Blogs. Lugares bons para se permanecer exposto a quem não quer, e esconder os escritos de quem realmente interessa. Lembro que quando comecei meu antigo blog de regime – já comentei isso antes – passeei por outros similares e vi que tudo parecia livro de autoajuda. Eu hoje pesei, emagreci 100 gramas, e rios de comentários elogiando. Eu hoje estou triste, porque pesei (de novo) e engordei 200 gramas, e rios de comentários dando força. Lembro bem que tive de parar de ler aqueles blogs para não ter bulimia nervosa, de tanto enjoo que me deu. E para não escrever para as mulheres pelo amor de deus não se pesem de 10 em 10 minutos.

Optei por descrever fatos: fazer regime é uma porcaria, chocolate é bem mais legal mas como era ou emagrecer ou morrer e eu estava gostando de viver resolvi fazer dieta. Passou? Não, gente como eu vai viver de regime, mas agora importa menos e quero pensar coisas além. Ontem a intenção era tentar ser mais leve. Textualmente falando.

O que não vai ocorrer por agora. Portanto, se você quer mensagens positivas e coisas fofa, procure por fotos da Anne Guedes, clicando nesse link.

Limites e traumas. Por volta dos 17 anos cometi um grave erro. Tenho, desde 1995, uma conta no Banco do Brasil. Na época com um limite de R$500 que, por conta de um cheque pré-datado fora de hora, mais um depósito que não foi feito no dia certo, estourou em um real. Isso, eu ultrapassei o limite do cheque especial em R$1. Foi esse o erro? Não. E se eu contar que uma tia minha, na época, trabalhava no banco, ficou sabendo por sei lá que motivo, e num aniversário, festa de família, me passou um sabão em público porque eu passei do limite do cheque? E se eu contar que o meu erro foi não ter ido ao banco na segunda-feira seguinte denunciar? Pois é.

Esse erro de não ter denunciado a minha tia ao banco custou caro. Dá-se a liberdade, hoje eles chegam e cortam um pedacinho, amanhã arrancam seu braço e reclamam depois de arrancar sua cabeça fora.

Moro em BH desde 1992, e sempre tive de ceder meu quarto para uma visita: essa mesma tia. Ela chegava, eu tinha de sair do quarto. Todos os outros não, dormiam (dormem) na sala... Durante uma crise de família (coisas do ápice da decadência pela qual passamos fim dos anos 1990), essa mesma tia chegou a gritar comigo que "os homens da família não serviam pra nada e só faziam coisa errada". Ponha "dinheiro" no contexto da afirmativa. Nesse dia tive meu primeiro ato de revolta (lembrei imediatamente da cena do banco), e fui embora para a casa da minha mãe, outra cidade, sem avisar. Mas só. Puseram panos quentes e deu-se como se nada tivesse acontecido.

A coisa começou a ficar "menos simples" quando, uma vez, eu estava sozinho aqui na cidade (para quem não sabe moramos eu e outra tia, dividimos as contas, mas a família tem a chave de casa) e eu soube en passant que essa mesma tia (sim, é a mesma mesmo – a que, como minha mãe fala, construiu uma casa imensa sem quarto de hóspedes) viria para Belo Horizonte. Alguém me avisou? Não. Deixei o seguinte comentário: que ela chegue comigo fora de casa. Porque a porta estaria trancada a ferro por dentro e, se alguém tentasse entrar, eu ia chamar a polícia. Meia hora depois recebi um cordial telefonema avisando que visitas iriam chegar.

Nada contra visitas, a propósito. Adoro. Muito principalmente quando elas avisam que virão e dá tempo de arrumar a casa, colocar alguma comida na geladeira, fazer um bolo, essas coisas que só quem é de Minas vai entender.

A falta de limites durou até janeiro de 2009 (estando eu, portanto, aos 31 anos). Cheguei do cinema e estavam, minha tia e a filha dela, dormindo no meu quarto. Assim: fui pra rua, voltei, tinha gente no meu quarto. Não sei se foi a idade, não sei se era a primeira semana do regime, as dores no corpo da academia, o fato de eu estar com cem quilos, ou quinze anos de revolta no meio do caminho. Liguei a televisão, duas da manhã, bem alto. Bem, bem alto. Comecei a gritar, bater porta, como se estivesse doido ou bêbado (não bebi, era sessão meia noite de filme e eu tinha começado a tomar fluoxetina já). Literalmente urrava. Até que ela levantou, tirou a filha e saiu do quarto, e fui dormir (metaforicamente, não preguei o olho de tanto ódio) na minha cama.

Dia seguinte meio que fui "forçado" a pedir desculpas. Mas desde então meu quarto é meu, só meu, mesmo agora eu dormindo mais fora de casa do que nela. Demorou tempo demais para eu começar a justificar que não sou como "os homens da família" e não tenho mais 14 anos há muito tempo. Hoje a gente se respeita. Como comentei com uma amiga ontem, lá em casa não somos o tipo de pessoa que fica anos sem se falar por nada. A conversa com ela gerou todo esse texto levíssimo de hoje. Que por sua vez me lembrou de uma coisa: eu preciso ensinar a alguém, do meu jeito, que é preciso, sim, respeitar os mais velhos e que não tem jeito de viver sem engolir um sapo ou dois. Mas que não devemos nunca, nunca mesmo, deixar de denunciar, na hora, se alguém quebrar seu sigilo bancário numa festa.

* O título do post é inspirado no filme do Carlos Saura (1977), que por sua vez tem o título baseado na expressão cría cuervos y te sacarán los ojos. Nada mais adequado. Afinal, "não entendo por que dizem que a infância é a época mais feliz na vida de alguém"...

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Para fazer sucesso: restart

Coisa que faço pouco, pouquíssimo, é depois de um tempo reler o que escrevi. Geralmente digito, corrijo o texto, corto, reescrevo o quanto quero e publico. Publicou? Corro uma breve leitura para ver se não passou algum erro de digitação e – principalmente – se tem algum problema com as aspas [coisa de quem escreve no Word: quando passamos para o blogger as aspas tipográficas ficam horríveis, aí eu troco tudo por aspas normais]. Ler de novo, meses depois, não. Geralmente tenho vergonha dos meus textos.

Só que: 1. Cismei [isso é cisma, ninguém me cobre nada] de juntar algumas coisas que tenho por aí e ver se dá alguma encadernação e, com isso, 2. Fui reler escritos aqui do blog. Cheguei a uma conclusão aparentemente óbvia: estou sério demais. Não que eu tenha de parar um linha de pensamento para contar piada. Não que eu saiba contar piada. Duas coisas que nunca me deixem fazer em festa são contar piada e cantar. A menos que precise terminar o evento mais cedo.

Sério demais por uma pá de fatores, desde o trabalho (sério) até o dia a dia (mais sério). Verdade seja dita, minha cara amarrada acabou passando para cá, disfarçada sob uma pretensão de seriedade. Um dos elogios que recebi, esse não esqueço, saiu naturalmente em uma mesa quando disseram, ainda nos tempos do blog de regime, que pareciam estar me ouvindo falar enquanto liam. Lá, mais que cá, os textos eram bastante espontâneos. Até porque não dá para não ser espontâneo quando se fala do trauma que é um peitoral voador.

Enfim. A conclusão é essa: estou sério demais. E quando fico sério demais fico pseudo demais. Pseudo inteligente, pseudo interessante, pseudo qualquer coisa menos eu mesmo, o que é, rasteiramente falando, ruim. Então decidir dar um pequeno reboot e iniciar tudo de novo, de outra forma. Não vou apagar texto nenhum, fica tudo aí, porém quero deixar de lado preciosismo, perfeccionismo, ismos, e essas coisas que a gente põe no texto e dá uma maquiada para os outros lerem e acharem até que você é capaz de pensar.

O que está escrito daí abaixo não é um monte de mentiras. Só é, vamos dizer assim, algum tipo de reflexão que fez sentido naquele momento mas que, se eu fosse seguir por esse caminho, ia ficar mais rabugento e mau humorado do que já sou. De Groucho Marx já basta a minha pessoa. E de pensamento duro basta aquele de todo dia. Quero tentar algo mais leve, se é que ainda dou conta. Não, necessariamente, descomprometido.

Para [re]começar nada melhor que me [re]apresentar, correto? Então segue minha nova [re]introdução, especialmente para o Qualquer tempo (que chique):

Olá! Eu sou o Marcelo. Antes de qualquer coisa você precisa saber que sou um babaca e que deixo tudo pela metade. Tipo a faculdade de comunicação, nunca acabei. Ou um conto que um dia comecei e está lá parado esperando encerrar [e a Rosi nesse momento me escreve querendo saber quando é que vou terminar a diaba da história]. Falo palavrão mais que devo. Tenho medo de panela de pressão, de avião e de rato. Nasci em 1977 e não sei a diferença entre oitava série e sétimo ano. Não tenho filhos, mas devia – um dia explico o porquê. Sou um fútil [e a Rosi vai me dar uma ferroada no gtalk], consumista, faço coleção de livro e DVD [de série, não de filme] mas não leio nem assisto por falta de tempo. Tenho duas cachorras e minha maior preocupação é que uma está com manchas cinzas nos olhos. Tenho contas a pagar. Atualmente sou game addicted – eu e um monte de donas de casa americanas. Super me dou bem com empregada doméstica, motorista e garçom. Não acredito em duendes. Já bebi, já fumei, já parei, já voltei, já parei de novo. Já fui gordo, já fui magro, hoje não sei bem onde estou. No mais eu gosto de falar besteira, mas quase sempre numa mesa de bar eu fico calado. E muito importante: fui ator, vou ao teatro, mas prefiro cinema.

Por enquanto é só.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Das pequenas mortes

Em algum lugar li, talvez tenha ouvido, que só se vive até a hora do parto. A partir do momento em que nascemos passamos a morrer pouco a pouco. Não deixa de ser verdade. A figura da morte costura nossos rastros e, independente do quão enviesado seja o caminho, chega-se a ela inevitavelmente.

Plagiando o compositor, não tenho medo da morte. Mas sim medo de morrer. Talvez pela dor, se é que dói, ou pela certeza do definitivo. Se me for dada opção de escolha quero morrer louco, sem nem saber qual o meu nome, falando um monte de palavrão em um corredor de hospital, enrolado numa imensa colcha de piquê.

O título acima diz das pequenas mortes. Até agora só falei da morte grande, a final, e não é esse meu propósito. O texto deveria ter começado pela seguinte epígrafe, um escrito para o twitter que não publiquei por achar depressivo:

"Há 21 anos minha avó morreu do coração. Perguntei se as pessoas não podiam ficar mais antes de ir. Daí descobri que existe o câncer."


Fato: tenho vindo de uma sequência de mortes, efeito dominó. Por ser de família grande, pessoas mais velhas, algumas delas adoecidas num mesmo tempo; mas não por susto, esse ano não aconteceu acidente nenhum. Eram mortes previsíveis, nem por isso menos doídas. Perdi meu padrinho, por coincidência meu avô, figura semelhante por demais a mim. Mais que o meu próprio pai. Por isso a dificuldade em deixar passar. Não saí ileso, porém até hoje não chorei. Então não quero falar sobre isso enquanto não chorar de verdade.

Quero, sim, falar das pequenas mortes. Morre-se a todo dia, desde o ato de se lavar. Saem células mortas, já ocupadas pelas mais novas e vivas. Fios de cabelo presos na escova, no pente. Bactérias na escova de dentes, nossas partes. Morre-se ao fumar, também ao caminhar, pela simples ação do vento. Vamos morrendo para nós mesmos todos os dias.

Ao mesmo tempo morremos para os outros. Aqueles que se vão, passageiros como nós os somos. Aquele que dorme e não sabe se acorda. Aquele que se matou no exato momento em que escrevo, levando consigo todo um seu mundo do qual não mais faço parte. Ao morrer o nosso universo conhecido se acaba, e com ele todo o resto. Da menor importância, um fim de mundo a cada corpo que expira.

Morremos e matamos a quem nos quer bem. Uma palavra ríspida é ato de morte tão cruel quanto um sorriso. Não se engane, sorrisos são cruéis, fatais, amorais. Principalmente os não espontâneos, os que mascaram o sentimento real e são usados cotidianamente em casa, no escritório, na cozinha e no banheiro. O sexo, gerador de vida, é, por definição, uma chacina. Quantas células morrem para que apenas uma tenha sucesso...

Vivemos cercados, sitiados, pelas pequenas mortes. Ainda assim vivos. Cientes do que nos aguarda e, meu caso, com pressa nenhuma de chegar lá. Sem paranoias, um certo medo. Talvez o bom no viver seja justo isso: a ciência de que um dia vamos embora, não se sabendo exatamente quando. É improvável, teoricamente sim é possível, que um piano desabe na minha cabeça amanhã ao sair de casa. Mas quem garante?

As pequenas mortes, nossas, dos outros, da folha que cai da árvore, mandam dizer que estamos vivos sem saber quanto tempo resta. Mandam dizer que o nosso universo é perecível, sim, e por isso deve ser utilizado. Mas sem urgência. Deixemos urgências e emergências para o plantão médico.


... Assim encerro os meus "das". Se você, leitor, obedeceu ao guia que deixei no texto da interpretação, volte e releia todas as metáforas. Se, por outro lado, passeou buscando entrelinhas – e as encontrou – tente reler tudo de forma simples e direta. Porque, no fim, importa não o sentido que imponho aqui, e sim o quanto dele chega em seus olhos.

Das passagens

Era ainda a primeira editora na qual trabalhei quando ouvi falar a primeira vez sobre o livro das passagens de Walter Benjamin. Livro que, impresso, foi parar nas lojas apenas em 2006, comigo já em transição entre o segundo e o atual terceiro emprego registrado na carteira de trabalho. Sou dos que duram na mesa de trabalho.

O título das passagens (no original "Passagens Parisienses", acabou saindo no Brasil apenas como "Passagens" mesmo) sempre me intrigou. O que seriam as tais passagens que precisavam de mais de mil páginas e não ficaram prontas, o homem morreu antes? Pois, claro, o livro trata da arquitetura de Paris – o que eu não sabia na época – e não, como supus, de uma análise filosófica de passagens da Bíblia.

Sim. Eu tenho o direito de interpretar um título como bem entender e, convenhamos, o termo "passagens" é bastante amplo e comporta significados diversos.

Fiquemos, por ora, na arquitetura. Da minha janela, na hora que escrevi esse texto em meu caderno, dava para ver uma ponte. Uma passagem. Que liga o centro da cidade ao bairro da Floresta. Por ela os carros, e as pessoas, passam.

As pessoas passam.

As pessoas passam, repito uma terceira vez. E quem me conhece sabe que vejo isso – essas palavras – como mots de ma vie. Não trato aqui da morte. Não me sinto maduro o bastante para analisar o efeito recente desse tipo de passagem na minha vida. Trato da morte depois, em um texto que vem sendo ruminado em minha cabeça há mais de um mês.

As pessoas passam porque é natural o ato de passar. Os amigos de hoje não são os mesmos de ontem e (muitos deles) não serão os mesmos de amanhã. Não há qualquer garantia de que eu vá jogar damas no asilo com meu colega de infância. Até pode acontecer, mas aí é destino.

Todos os dias "passamos" por rostos desconhecidos quando atravessamos a rua. Com a rotina do trabalho, acabamos passando por mais de dois rostos comuns cotidianamente, costumeiramente. Rostos que, apesar de conhecidos, são passageiros como nós mesmos os somos. Passageiros impermanentes na essência.

A consciência de que as pessoas passam é premissa importante para a prática do desapego. Não fui convidado para tal festa... Qual o problema? Não vejo mais aquele grande amigo... Quais interesses mudaram? E em definitivo o que realmente importa?

As passagens também retêm, por vezes. Por vezes as pessoas param. Sem querer. Por querer. Não querendo. E, inexoravelmente (aqui, e somente aqui, falo de morte), passam de vez. Importa, no fim, os traços e os rastros da passagem das pessoas por sua ponte. O valor que estas agregam a você enquanto passagem.

E importa, também, saber a hora de "deixar ir", de "deixar fluir" o ciclo (o trânsito?). Até porque, enquanto passagem, existe sempre a possibilidade de retorno. Nem que, antes, tenha sido preciso dar uma volta no mundo.


* Para as pessoas na minha ponte. As que estão e as que virão. As que passaram... bem, elas passaram.

Da interpretação

Para começar como todo mineiro, um caso. Era 1998, não sei mais precisar o mês, quando no meu trabalho pediram para eu fazer uma capa de livro baseada nos bordados de João Cândido Felisberto, o "Almirante Negro" da Revolta da Chibata, que bordava nos tempos livres. Simples assim: peguei uma foto de um pano de prato, tratei para que ela ficasse em tons de azul claro (azul que, vim a saber depois, é sempre a primeira cor escolhida por quem não sabe o que vai fazer), encaixei no projeto gráfico preexistente e fim. Capa montada.

O autor viu a tal da capa (que foi parar até na revista Veja – em um tempo no qual eu me importava com isso), e – disseram – ficou muito emocionado. Disseram depois, também, que eu, capista, queria transmitir tal e tal coisa com a capa, que a delicadeza do bordado, que a linguagem, blá-blá-blá... Tudo mentira. Eu não queria “dizer” nada com aquilo. Só trabalhei em cima de um material que me deram. Sem intenção alguma de produzir um sentido que transcendesse a imagem ali exposta. A tal capa, para mim, é, foi e será uma foto de pano de prato. Sem mais.

Esse caso específico me leva a pensar nas aulas de literatura. Aquelas. Drummond escreveu que "tinha uma pedra no meio do caminho". O povo entendeu tudo e mais um pouco. Que ele tinha brigado com a esposa, que não estava satisfeito com a vida, que queria causar um grande falatório com o tal poema. Pois bem, senhores, para mim Drummond estava andando na rua, tropeçou, não tinha mais o que fazer da vida naquela hora e decidiu escrever um poema para a tal pedra. "Ah mas você está reduzindo muito a sua visão frente o grande poeta que Drummond foi." Talvez. Por sorte, na aula de literatura, nunca me pediram para interpretar Drummond. Mário de Andrade uma vez e, no salto dos meus então 15 anos, fiz uma crítica descendo a lenha em "Amar, verbo intransitivo" (que odiei, claro). Não tirei zero, lembro, mas tenho certeza de que se fosse Drummond e a sua pedra eu teria ficado de recuperação.

Enfim... Onde quero exatamente chegar com isso? Ao ponto mais simples de todos: na maior parte das vezes o que escrevo aqui é para ser lido tal como escrito, sem entrelinhas. Não produzo literatura – não aquela das aulas de colégio. Dos textos mais perfeitos para mim é receita de bolo. Dois ovos, farinha, leite, fermento e forno. Sem margem a "o que ele quer dizer isso". Receita de bolo e rótulo de embalagem.

Então, prezado leitor, quase sempre (reservo-me o direito das metáforas), o que está anotado aqui deve ser lido de forma corriqueira, como quem lê uma receita. Minhas dores, crenças, desafetos e lamentos quase nunca chegam emoldurados ou com passe-partout. E essa afirmativa é – e será daqui para frente – importantíssima. Entenda esse texto (eu, o autor, veementemente sugiro) como um guia de leitura do que está por vir.

Porque, como sempre, o que deveria ser um "parágrafo inicial" tomou vida própria. E encerro por hora para não ficar grande demais.