quarta-feira, 7 de abril de 2010

Antipatia

Li outro dia em um livro da Fernanda Young (Tudo que você não soube, Ediouro, 2007) que a personagem, o livro é uma narrativa em primeira pessoa, não fuma por questões estéticas. Porque não suporta a voz rouca pré-câncer das mulheres que fumam há não-sei-quantos anos. E que são, quase sempre, louras. Porque mulher não fica velha, fica loura. Resolvi exercitar (mais) o meu lado antipático de ser, e fazer uma pequena lista das minhas insuportabilidades. Esse texto deveria se chamar "Da insuportabilidade das coisas".

Homens de bigode, não suporto. Homens de bigode me lembram velhos e década de 1970, quando nasci. Eu tolero os velhos que usam bigode, como o meu avô. Fumantes com bigode amarelado por cigarro acho insuportáveis. Assim como esse povo da minha idade (ou menos) que insiste em usar bigode e aqueles óculos do tempo do onça e achar que estão ótimos, cools e cults. Não, não estão. Não para mim, pelo menos. Então você, magrelo, que usa bigode e óculos retrô parecendo tirados de um filme do Chevy Chase, saiba: eu não te suporto e não faço questão nenhuma em achar que o seu enfeiamento social seja algo útil. Porque, sério, bonita essa moda não é. Bonito no sentido estético, agradável aos olhos.

Pessoas tatuadas que se acham. Pessoas que se acham, no geral, mas principalmente as tatuadas mais antipáticas que eu. Ah sim eu tenho tatuagem, por isso tem dias que não me suporto – o que me levaria direto ao consultório psiquiátrico. Como não tenho dinheiro para pagar o médico, escrevo... E por pura antipatia (ou cortesia) você me lê.

Gente que escreve errado. O errado básico, entendam: exceção, chato, lagartixa, iogurte. A brochada mais fenomenal da minha vida foi quando vi um chato com xis – "xato". A pessoa ficou feia de repente, eu chegava perto e aquele xis parecia brotar na testa, pulsando. E sim, eu já fiz parte da comunidade Good writing is sexy, do tempo em que existia Orkut. Mas perdoo berinjelas e jilós, porque para essas palavras precisei consultar o dicionário. Até erros de concordância passa.

Mensagens edificantes em powerpoint e vídeos engraçados e piadas fantásticas e correntes de qualquer santo ou anjo que chegar no meu email. Xis delete. Vou passar a usar essa expressão "xis delete", gostei. Pus o meu tio na lista de pessoas que o e-mail vai direto pro lixo, e não abro 99% das mensagens da minha mãe. Pois é. Insuportável e intolerante, eu.

FM Itatiaia, depois que passou a transmitir a mesma programação da Itatiaia AM. Vulgo a rádio favorita dos taxistas. Porque me lembra trânsito e me lembra morrinha. Detesto engarrafamento, detesto buzina, detesto motoboy, detesto sinal fechado, detesto malabarista de sinal, detesto flanelinha. E não tenho carro. Carro em minha mão provavelmente deve virar arma. Entendo demais aquele jogo Carmageddon, que o cara sai atropelando deus e o mundo. Por isso nunca joguei. Medo de viciar naquilo e ir parar numa clínica de tratamento para dependentes de videogame.

Obra. Detesto obra, construção. Não quebro uma parede da minha casa para melhorar o sinal da tv a cabo porque sei que quando uma obra começa não acaba. Não gosto de pedreiros por associação. Pelo barulho que fazem, pelo transtorno que causam. Lugar em obra devia ser isolado do convívio social até ficar pronto. Meu sonho é comprar apartamento na planta e só mudar quando tudo estiver no lugar. Mentira. Meu sonho é comprar uma casa velha no centro da cidade e mandar reformar. Antes de me mudar, claro, e preferencialmente entregando o dinheiro na mão de algum arquiteto amigo meu. Porque eu e a obra somos como a lua e o sol: quando encontra dá eclipse.

Perfume vagabundo é outra coisa insuportável para mim, sou alérgico. No meu corpo só algo fraquinho ou Allure Homme, Chanel. Que é o que assenta bem e me dá o "meu cheiro tradicional". Pena que é caro demais para eu comprar aos litros. Não ter dinheiro é algo que não me agrada também, só que, convenhamos, tenho de agradecer muito por conseguir levar as coisas mais ou menos equilibradas. Não sei – mesmo – como alguém consegue viver com um salário mínimo e criar quatro filhos.

Para finalizar por hoje a lista de minhas insuportabilidades: pais permissivos, aqueles que acham natural o seu filho subir na cadeira do ônibus e puxar o cabelo do passageiro da frente (eu, no caso). Não, não é. Nada contra a criança puxar o seu cabelo uma vez. Acontece. Mas nesse ponto, e me perdoem pais, é igual treinar cachorro: viu fazendo errado tem de corrigir na hora. Preferencialmente fazendo a criança passar a vergonha de ir pedir desculpas à pessoa. Acho que nesse ponto minha mãe acertou: respeito demais as pessoas principalmente para não ter de ir pedir desculpas pelo transtorno causado. Porque sim, é algo que me deixa muito embaraçado. Sou tímido, apesar de sempre dizerem o contrário.

2 comentários:

Allysson disse...

Finalmente achei alguém que acha que, nem tudo o que aconteceu nos anos 80 deve voltar a ser usado, indiscriminadamente, como vem sendo. Vide o All Star, o bigode, o óculos de avô e as festas com música da Xuxa...

shikida disse...

Venha ver Tetê ;-) que miora