Quando comecei o texto anterior pensei fazer apenas uma introdução ao que realmente interessava. Porém o texto fluiu além da conta, e tive de dividir meu pensamento em partes. Então, prezado leitor, considere esse escrito como uma sequência da postagem logo abaixo, ok? Agradecido.
Ano passado ganhei um livro de listas: Os 10 mais. No site dá para o interessado ler algumas páginas da obra. Não vou entrar no mérito de quem tem prazer em fazer listas. Alguém que arruma a bagagem em meia hora (e leva metade da casa sempre, porque pode fazer frio) não faz listas quase nunca. Na verdade as listas que faço são quase sempre de metas a cumprir: anual (que, como disse em um texto anterior, funcionam) e, quando o trabalho aperta, de trabalho a ser feito durante o dia. Só. Lista de supermercado? Se em 2009 fiz três foi muita coisa.
De qualquer modo, é muito interessante ver o grande mercado das listagens. Veja que troquei o termo aqui, porque não me interessam, como disse, as listas. E sim o seu conteúdo. Uma procura básica no Buscapé mandou a lista de 37 (!) livros. Clique no link para ver tudo, aqui copio (e comento) o título de alguns:
1001 maravilhas naturais para ver antes de morrer (de tédio?); 1001 vinhos para beber antes de morrer (de cirrose?); 101 bares para beber antes de morrer (eu já fui a mais de 101 bares); 1000 lugares para conhecer antes de morrer (vem com um passaporte de companhia aérea?); 1001 comidas para provar antes de morrer (precisa mesmo?); 1001 filmes para ver antes de morrer (eu sei quem tem); 1001 discos para ouvir antes de morrer (procurando tem site para baixar todos).
Enfim. Coisa para fazer antes de morrer é literalmente o que não falta. O que pergunto, na verdade é: para quê? Qual vai ser a minha diferença no além-túmulo se eu tiver ido ou não a 1001 lugares, provado 1001 tipos diferentes de comida, fumado 1001 charutos e morrido de enfizema? Se eu for, talvez, a 980 dos lugares que o livro sugere, a minha vida não terá sido perfeita?
Listas de coisas a se fazer são meros reflexos da pressão que a sociedade atual exerce sobre o indivíduo. Um ser humano ordinário, classe média, trabalhando 40h por semana com um salário razoável, a menos que ganhe na Mega Sena e mude de classe social, nunca iria dar conta de viajar para 1001 lugares diferentes (1002 se contarmos aquela fazenda maravilhosa que só você conhece e, claro, não está na lista). Pelo simples fato de se ser "humano" e de ter "contas a pagar". As listas então são apenas elementos de um desejo decorativo. Existem não para ser feitas, e sim para alimentar uma imensa sensação de frustração e incompletude.
Preferível ater-me a metas mais significativas, e plausíveis, e guardar para o planejamento algo mais interessante que viajar a 1001 lugares em clima de excursão. Por exemplo: passar, como fez uma amiga, seis meses na França. Morar lá, viver um tempo. Sou da turma dos que não fizeram intercâmbio no colégio. Vou voltar tendo conhecido um só lugar, porém com certeza mais feliz do que se tivesse pego a excursão CVC Europa completa em 15 dias. Se é para sonhar, que eu sonhe com algo confortável.
Pensando assim resolvi, paradoxalmente, elaborar a segunda lista desse blog. Duas listas em um ano, para quem não faz listas, amedrontam. Segue então, a minha lista de 10 coisas que não quero fazer na vida (com comentários):
1. Viajar para a Índia. Ok, todo mundo tem um amigo que foi à Índia e achou lindo. Deve ser, não duvido. Para os outros. Eu sou muito pró-conforto e antissocial para me meter em um passeio desses. O mesmo se aplica a lugares como Machu Picchu, Marrocos, Serra Pelada e congêneres.
2. Comer cérebro de macaco (ou qualquer iguaria exótica do nível, como gafanhoto, olho de cabra, carne de cachorro etc.). A menos que eu esteja ilhado e que seja a única opção de comida, graças à globalização sempre haverá um Mc Donald’s. Em tempo: já comi escargot e carne de tatu. Bons, os dois.
3. Fumar ópio. Parei de fumar toda e qualquer coisa. O mesmo se aplica a orégano, sálvia, haxixe, vinho de garrafão e qualquer droga que não tenha experimentado na faculdade. Foi-se o tempo, meu barato agora é fluoxetina e diazepan. Só.
4. Comer baiacu. Está em classe separada das comidas exóticas porque teoricamente é um peixe como outro qualquer. Com o diferencial de que um pedaço pode matar. E quer maneira mais boba de morrer do que comendo um peixe?
5. Brincar de roleta russa. Pelos mesmos motivos acima, apesar de eu achar bala na cabeça uma morte mais digna que envenenamento de peixe. Mais suja também, mas isso é problema para a Sunshine Cleaning.
6. Ir pescar no Pantanal. Qualquer atividade que envolva as palavras "acampamento", "céu aberto" e "mosquito" não foi pensada para mim. Incluo na lista aqueles acampamentos de treinamento de guerra e o falecido programa No limite.
7. Zorbing. Não sabe o que é? Vá descobrir.
8. Comprar um trailer. Eu nunca compraria um trailer, eu nunca viajaria em um trailer, eu nunca dormiria em um trailer, eu nunca moraria em um trailer. A menos que esteja passando necessidade. Mas acho que prefiro morar embaixo de uma ponte. Pelo menos é mais Brasil.
9. Abrir uma empresa. Não nasci para administrar o meu dinheiro, que dirá cuidar de funcionário. Meu sonho sempre foi receber, entregar a grana na mão de alguém e dizer "tome conta". Desde que eu tenha um cartão de crédito ilimitado e nenhuma conta a pagar, perfeito.
10. Ter uma fazenda. Apesar de estar no sangue, virei urbano demais para me ver no interior, umas vaquinhas, umas galinhas, uma casa no campo onde eu possa compor muitos rocks rurais. Prefiro guardar meus (poucos) amigos, meus (muitos) discos e livros aqui por perto.
Deveria ter sido incluído o item 11: parir. Mas isso é inerente a todo indivíduo do sexo masculino, e só iria consumir espaço em um texto que acabou ficando grande demais e que deveria também ter sido cortado em duas partes.
segunda-feira, 3 de maio de 2010
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3 comentários:
ó, o jalapão ainda tem chance!
Gente! Mas você ja não me disse que gosta de viver perigosamente? E o zorbing na rua Direita?
Nossa, eu quero todas as 10!!
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