Por vezes é de bom-tom recordar que apenas o fato de se estar vivo é, em si, uma grande vitória do dia a dia. Caem árvores, atropela-se, pessoas morrem cotidianamente aos borbotões. O ato último da morte é corriqueiro e cruel, mas dela preferimos não saber. Como se vivêssemos envidraçados e distantes da fatalidade.
Até que ela ocorre: em casa, na rua, na sua frente. E seguimos rejeitando a ideia, provavelmente por instinto natural de sobrevivência, e protelamos a consciência do morrer para o dito instante inevitável.
Se vivêssemos, hoje, abraçando a realidade de uma despedida futura, talvez deixássemos lembranças mais permanentes, e ainda menos sofrimento na hora da ausência. Porém o viver artificializado que nos envolve suprime as relações com o ato de morrer.
Velórios não se fazem mais em casa, não se passa a noite com a pessoa morta, não se chora na hora certa, tudo é assombrosamente limpo, estéril e padronizado.
Para a minha hora eu gostaria de choro, casa, café e noite em claro. Ganharei decerto a frieza e a assepsia de um crematório. Contudo não estarei lá para ver, então isso importa pouco. Sigo, de todo modo, cumprindo o desejo de sobreviver aos meus antepassados. Isso, e isso somente, deveria ser dever de toda geração mais jovem...
*Aos atropelados, eletrocutados, explodidos e caídos do dia de hoje, com respeito.
Chutney cru de manga madura
Há um dia