quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Trinta e cinco

Segundo o calendário, estou com 35 anos. A metade do que, em média, se espera que um homem viva. Ou seja, em tese, devo estar no meio de alguma crise de meia idade ou algo do gênero. Em crise muito pelo comparativo – os homens de 35 da geração anterior, e até da minha, já têm definidas metas de vida, carreira, projetos, boa parte já casou, tem filho(s) e está em processo de construir patrimônio.

Pois, meu caso, a indefinição é que se apresenta: resolvi redefinir minha carreira e voltar para a sala de aula, o que significam novos anos de estudo e inserção de novos valores, novas definições, novas metas.

Interessante que, no dia seguinte ao meu aniversário pensei fazer novo blog como um diário machista do homem de 35. A ideia vingou e morreu na cabeça porque veio uma torrente de informação grande o suficiente para jogar meus conceitos – e meias-verdades nas quais acreditava – por terra. Desde o meu relacionamento com a Morte (enquanto entidade), a minha visão de mundo, a vida dentro de casa, tudo. Do diário machista sobraram alguns registros mentais sobre “cheating”, “aproveitar o(s) tempo(s) perdido(s)” e algo que posso ou não vir a desenvolver algo mais tarde.

Como a dita crise dos 35 não atinge só a mim – Filosofia frente a Morte: só temos medo de morrer porque sabemos que o mundo continuará do mesmo jeito sem a gente aqui, e isso nos faz perder a aura de “especiais” que todo ser humano acha que tem* – e como efetivamente qualquer diário-da-crise soaria necessariamente pretensioso, resolvi abolir o projeto e voltar ao exercício da escrita no blog de sempre. Nada mais justo para um espaço que pode ser utilizado em “Qualquer tempo”.

Porém, assumindo o viés da pretensão, (re)inicio esse exercício justamente com algumas observações esparsas, anotações de página lateral, que vieram à tona após o meu aniversário:

1. Avião não foi feito para cair, diferente do submarino que necessariamente afunda – alguns comparam também com casamento.

2. Não, você, homem de 35, não perdeu o seu poder de sedução. O que está perdida, no máximo, é sua autoestima.

3. Pessoas andam a pé na rua em todas as cidades. Se aos 20 você caminhava sozinho, sem medo, em uma cidade desconhecida, dê-se novamente o direito de ser flâneur.

4. Sim, você mesmo pode comprar cuecas e meias, pare de ficar esperando esse tipo de presente. Tem loja que só vende isso, facilita bastante.

5. Cabelo branco na barba = barba feita periodicamente. Isso explica muita coisa. A menos que se tenha pretensão a Karl Marx.

6. Escolha uma parte do dia, fora a hora de dormir, para não pensar em trabalho. Pode ser a hora da novela, ou de alguma série, ou de ver um filme, ou de ler algo. Leia algo que não seja revista ou site ou romance de Sidney Sheldon (e congêneres).

7. Volte ao livro que você necessariamente abandonou quando tinha entre 15 e 18 anos e leia como se fosse coisa nova. Provavelmente você entenderá: ou o motivo de ter abandonado ou o livro em si.

8. Por último, estampe nas suas redes sociais, faça uma faixa e pregue na porta: “Um trabalho é só um trabalho e o trabalho não define o indivíduo. Trabalho não é virtude; ética, responsabilidade e competência são.”

Deveria haver um “volte a escrever” perdido ali em cima, mas achei desnecessário. Cada um se elabora como quiser, seja escrevendo, no chuveiro, na academia, na cama, comendo, viajando ou gritando na janela. Mas volte a beber, não tanto quanto 15 anos atrás, logicamente.

*Uma breve anotação: a Filosofia frente a Morte foi-me apresentada, mais ou menos nesses termos, pelo meu professor de Filosofia do cursinho. A afirmativa é dele, portanto, e só reproduzi aqui.

Um comentário:

rOsI disse...

detesto ler "nenhum comentário" :)