terça-feira, 19 de outubro de 2010

Exercício de memória : personagens

Alguns amigos postaram em seus perfis do Facebook esses últimos meses uma brincadeira dos 15 mais. Os 15 livros, 15 filmes, 15 músicas que marcaram a sua vida, fizeram chorar, vão ser sempre lembrados. O desafio, digamos assim, era retornar a mensagem em 15 minutos, compartilhando a lista com o amigo e passando para frente a "corrente" (na falta de um melhor termo). Interessante mas não participei de nenhuma brincadeira.

Em primeiro lugar porque sou bobo, chato e feio. Depois porque não tem como eu revirar meu baú mental e pinçar, em um espaço de tempo tão reduzido, 15 aleatoriedades realmente representativas. Mas, sendo mais chato ainda, como gostei da ideia resolvi subvertê-la e preparar uma lista de personagens (reais ou não) que marcaram minha vida. Para o bem e para o mal. Devem ser 15, mas talvez falte (ou sobre) algum. A ordem de entrada é totalmente randômica, até pensei fazer ordem alfabética, mas vou deixar a memória mandar. Clique no nome da personagem para vê-la no Youtube.

O espelho mágico da Branca de Neve
Começando de cara com o espelho, um dos coadjuvantes mais interessantes, em minha modesta opinião, do cinema de animação. Nem bom nem mau, o espelho diz a verdade. E filosofa vez por outra. Fora que não tem medo de responder à rainha má que existe alguém mais belo no reino. A rainha, mui respeitosamente, ouve e em momento algum dá uma pedrada no vidro e faz o espelho virar mil.

Malévola
Ainda no cinema de animação, Malévola é a vilã e não se discute. Pérfida e cruel como deve ser, irritada, irritante e irritável, musa maligna da minha geração. Bia Falcão aprendeu com Malévola. Sue Sylvester aprendeu com Malévola. Eu... bem, eu também!

Cassandra
Personagem de Eurípides, personagem da Guerra de Troia, pitonisa, enlouquecida e amaldiçoada. Cassandra foi condenada à privação da confiança. Ela sempre dizia a verdade, e nunca acreditavam nela. Para representar a personagem da peça em que atuei, escolhi a interpretação de Geneviève Bujold no filme As Troianas, de 1971. Com Vanessa Redgrave no papel de Andrômaca e Katharine Hepburn arrasando como Hécuba. Taltíbio, personagem que interpretei no teatro, está também no trailer do link.

O Advogado
"Sim, eu sou um homem e choro. Um homem não tem olhos? Não tem também mãos, sentidos, inclinações, paixões? Porque é que um homem não devia chorar?" Estudei O Sonho, de August Strindberg, aos 15-16 anos. Seria uma peça que eu remontaria hoje, e faria exatamente o mesmo personagem: o Advogado. Arquetípico, não? E pensar que na época, lá no comecinho, queria mesmo ser o Oficial. Foi O Sonho que me levou a Bergman, e à personagem abaixo.

Ismael Retzinsky
Ismael é um garoto mantido num quarto fechado. Extremamente sedutor, assim como o pequeno universo em que vive. Andrógino, é interpretado por uma atriz (Stina Ekblad) em Fanny e Alexander. Se eu pudesse em meu leito de morte escolher uma cena de filme para assistir seria, sem dúvida alguma, essa.

Don Vito Corleone
A descrição mais difícil de ser feita sem cair em clichê. Então resumo assim: canceriano. Pronto.

Bacana
Qual menino da minha idade não queria ser o Bacana? O personagem, como não poderia deixar de ser, estigmatizou o Jonas Torres de um jeito que o moço foi virar marinheiro nos EUA. Mas o Bacana era bacana demais! E a Armação Ilimitada tinha, acho, algum roteiro. E tinha Zelda, Ronalda, o Chefe...

Stalker
Stalker foi um filme que só assisti uma vez, e acho que provavelmente dormi em parte dele. Produção típica do Tarkovsky, clima onírico com longas tomadas, o principal do personagem Stalker é mesmo o nome. Toda vez que alguém menciona o termo "stalker" (extremamente comum nos dias de hoje) são essas imagens que me vêm à cabeça na hora.

Fania Fenelon
A amarga sinfonia de Auschwitz traz Vanessa Redgrave (de novo ela) com a cabeça raspada interpretando uma prisioneira judia que sobrevive a Auschwitz por causa da música e de uma orquestra de presidiárias. A Fania real não gostou muito de ter sido interpretada pela Vanessa. Pelo que lembro do filme, foi um dos que mais chorei em toda minha vida.

Eduardo II e Gaveston
Referência ao rei da Inglaterra, o filme de Derek Jarman ainda me marca até hoje. Não tenho como escolher apenas um do casal gay real. Mas a cena mais marcante do filme, para mim, é o menino maquiado, de brincos, sobre a jaula do rei.

Macunaíma
Consigo descrever exatamente a noite em que assisti a esse filme na casa da minha mãe e fiquei chocado com o parto do Macunaíma. Não lembro se para a faculdade (dela) ou para a escola (minha), Macunaíma apareceu lá em casa para ajudar na leitura de um livro. Até hoje não gosto quando o Grande Otelo vira Paulo José.

Mary Matoso
Das melhores personagens da Patrícia Travassos em uma novela que marcou a minha adolescência. Dessas coisas de querer chegar em casa logo só para ver Vamp. Na memória a cena em que ela, de posse do comando da rádio da cidade, obriga o lugar inteiro a ouvir Recuerdos de Ypacaraí na sua linda voz de gralha velha.

Baronesa Eknésia
Se a telenovela é a educação sentimental do brasileiro, a Baronesa com certeza é a melhor professora. De brinde a Rainha Valentina, em uma interpretação impecável da Tereza Rachel.

Beato Salu
Eu tinha medo do Beato Salu, sabia?

Perpétua
Para encerrar com uma vilã. Figura inesquecível com a misteriosa caixa branca, na qual ela guardava o membro decepado do falecido marido. A minha mãe me proibiu de assistir a Tieta, porque chamei a emprega de fedaputa. Por isso tenho um lapso de memória de certos trechos da novela.

A lista pode aumentar, só que vou parar aqui. Afinal são 15 apenas.

*Update: pouco tempo depois de eu postar vi que o link de A amarga sinfonia de Auschwitz foi "banido" do Youtube e não achei outro. Deixei a foto da Vanessa no lugar.

2 comentários:

Unknown disse...

Oi Marcelo,

Bom saber que o trash e o cult (Mary Matoso e Tarkovsky ) convivem em vc numa boa. Abraços

Marcelo Belico disse...

Eu sempre recomendo a todos "trocar os livros" de vez em quando. Para não ficarem repetitivos.