quarta-feira, 28 de abril de 2010

Consumerismo

Parodiando os versos de uma quadrinha infantil, "ainda não comprei mas hei de comprar" um livro chamado Como fazíamos sem... Não está tão caro assim, porém no momento existem outras prioridades. Principalmente porque a fila de livros aumentou em cinco novos volumes. O livro, de acordo com a sinopse, mostra como era a vida antes de algumas invenções úteis, como telefone, geladeira, luz elétrica. Parte do trabalho da autora, Bárbara Soalheiro, dá para ser lido em uma matéria da revista Aventuras na história, simplesmente clicando aqui.

Eu mesmo nasci no tempo da Barsa. Aquela enciclopédia, que o vendedor passava de porta em porta apresentando como a maior novidade para a pesquisa escolar. E era. Agora a Barsa é um website de pesquisa; e a Barsa enquanto enciclopédia de papel já deve estar morta e enterrada, sem direito a exumação. Aparentemente o Almanaque Abril continua firme e forte.

No entanto, não é preciso voltar 30 anos no tempo para pensar como fazíamos sem determinada coisa. Celulares, por exemplo. Mesmo achando que é uma invenção similar à coleira de cachorro, e insistentemente me forçando a esquecer o aparelho em casa, desligado, ou no silencioso a maior parte do tempo, não há como não admitir que seja algo útil. Principalmente para chamar a seguradora de noite quando o pneu do carro fura.

Pela economia gerada, as câmeras fotográficas digitais também podem ser tidas por úteis. Apesar de alguns fotógrafos discordarem e de o uso indiscriminado das tais máquinas terem popularizado a superexposição constrangedora desnecessária, também conhecida como "as fotos do churrasco na laje da minha tia quando eu bebi demais e fiz bundalelê em cima da mesa". Mas o aparelho, em si, não tem culpa. Assim como não se pode responsabilizar o inventor do carro por um atropelamento, não tem como culpar a câmera digital pelo uso indiscriminado que fazem dela. Computadores pessoais, novas tecnologias de comunicação, a lista de invenções úteis é grande.

Por outro lado, seguindo a tendência de que tudo o que é bom precisa de uma contrapartida, existem as deliciosas invenções inúteis. E vou começar barbarizando e dizer que iPod é algo desnecessário. Lamento, mas é. Confortável para ouvir as suas músicas? Sim. Eu tenho um iPod. Ajuda a aliviar o estresse na fila do supermercado, é meu companheiro de esteira na academia e no ônibus. Ajuda a trabalhar. Porém, convenhamos, dá para fazer tudo isso sem ele. Dá para chamar de prazer supérfluo, nunca de aparelho indispensável. Não o é nem para um DJ.

O iPod só não é mais desnecessário (inútil?) que o secador de alface, aquele da cordinha que vendia no Shoptime. Ou que todos os produtos fantásticos vendidos através do 011-1406, como as facas Ginsu, as meias Vivarina e aqueles elásticos de plástica instantânea que espichavam o rosto das velhas e deixaram toda uma geração, por meses, com a cara da Elza Soares. Também dá para incluir na listagem um mundo de produtos que todo mundo que já foi a uma feira de produtos para casa (aqui em Belo Horizonte se chama Unilar e estou combinando de ir com uma amiga para ver as últimas novidades do mercado de tranqueiras): filtro para liquidificador, processador manual, descascador de pepino, boleador de melão e por aí vai.

O tempo das invenções interessantes talvez nunca passe. Mas nunca uma safra de invenções é tão marcante quanto aquela que você tem tempo de ficar em casa assistindo à demonstração de tudo isso nos canais de merchandising. Já tive manhãs hilárias assistindo a demonstrações de vaporeto, da flat hose, do invisible bra e um monte de apetrecho para emagrecer e esticar o cabelo. Em uma época em que a coisa era mais amadora, não tão profissional como a Polishop de hoje, e que dava tempo para fazer algo simples, que eu não sei como as pessoas faziam sem: assistir tevê. Com direito à memorável propaganda da loção do Vicentino de Moeda.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Perdendo dentes

Fazem alguns dias sinto-me um tanto oco. Como se um pedaço faltasse nalgum lugar, algo meio que orobórico, como se eu estivesse a perseguir meu próprio rabo. Como um cão o faz, dando voltas em torno de si próprio para morder a cauda. Filosoficamente falando, o homem é um animal em busca da sua incompletude. Sempre quer aquilo que falta, e quando encontra dá-se por insatisfeito. Quer algo além. Esse algo além foi o que fez o homem andar e construir prédios. Também o levou a fazer guerras.

A maior guerra que uma pessoa trava é consigo própria. Encarar um campo de batalha não deve ser tão terrível quanto levantar da cama todos os dias. Achar motivo para dar o passo primeiro e iniciar a jornada é guerra, guerra interna dura e sofrida. Guerras são feitas de batalhas e já diz o ditado quem não se pode ganhar todas. Portanto reservo-me dias de derrota e de recolhimento. Eles são poucos se comparados à alegria descomunal de chegar em casa e descansar com a sensação de batalha justa.

Porém, assim como a todos, também me é dura a sensação da perda. Perder não é bom, ganhar é bom, aprendemos assim. Ainda que, e citando letra de música de um grupo que não gosto muito (mas se chama Pato Fu): "As brigas que ganhei / Nem um troféu / Como lembrança / Pra casa eu levei // As brigas que perdi / Estas sim / Eu nunca esqueci / Eu nunca esqueci".

Perder é também aprendizado. É treino para morte, sem a inexorável inevitabilidade desta outra. Perde-se hoje e vivencia-se um pouco a sensação do “estar-sem”. Estar sem algo, sem alguém, é ruim, é triste, é por vezes necessário. Meu oco faz-se em função do vislumbre da possibilidade de grandes perdas. Presenciais e intelectuais. Que se ampliaram para além de meus limites.

Algumas perdas reversíveis e outras irremediáveis. Todas com a mesma sensação de "eu aproveitei menos do que poderia". Mas perdas, anyway. Sem retorno. Os caminhos são sem retorno, não se involui naturalmente. O que há, quando há, é recomeço. Podemos, quando quisermos recomeçar. A menos que estejamos mortos de verdade.

* A dois: a você e ao meu avô.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Postagem 26

Este é um blog outonal, autoral, que, parece, enfim está com o layout pronto. A gente não esperou "o verão passar" de propósito. Muito menos fique achando que vá haver qualquer mudança quando o inverno chegar. Permanecerá assim. No máximo ponho de fundo a música Primavera, aquela do Tim Maia.

A justificativa está no céu azul e nos tempos amenos do outono. Esse é um blog de amenidades, de crônicas sobre o tempo e de outros escritos esparsos. Sem objetivo maior que agradar o próprio autor. Eu, no caso. Quando a Rosi chegou com essa proposta outonal gostei de cara. Porque se tem uma coisa que a Rosi sabe fazer, e bem, é deixar algo com a cara da gente.

No mais é ir chutando a bola, aproveitar os dias sem pressa e comer morangos. Outros outonos virão, porém esse está apenas começando.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Brasileia

Estou verborrágico. O que vem a ser um problema quando eu deveria estar trabalhando e não pensando algum texto. Mas o fato é que o escrito sai a hora que ele quer. Eu praticamente psicografo tem certas horas. Para em outras ficar suando uma linha medíocre qualquer.

O fato é que estou atormentado.

Porque fui chamado de nacionalista.

A minha primeira defesa é que não, eu não saio por aí de cocar e tambor defendendo o Juca Pirama, o pau-brasil e o Macunaíma. Até porque a Semana de Arte Moderna passou tem quase oitenta anos. Muito menos visto camisa pró qualquer tipo de purismo ou puritanismo.

Porém preciso assumir que me acabei tornando um tanto nacionalista mesmo. Ou pelo menos falando mais sobre o produto interno.

Tipo. O melhor livro que li esse ano de 2010 foi mesmo o Galiléia. Recomendo a qualquer um. Ouço Angela Maria, Ney Matogrosso, Dolores Duran, Elis Regina, Rita Lee, Klébi Nóri, Teresa Cristina, Rita Ribeiro, Maria Bethânia. Gilberto Gil. Chico Buarque. Fui em um dos últimos shows do Chico Science e adorei quando assisti a um show vazio da Paula Lima. Acho ponto de macumba coisa de uma musicalidade fantástica. Mais da metade das músicas que tenho em casa é mesmo cantada em português brasileiro. Já gostei mais de Jorge Amado e acho as novelas do Sílvio de Abreu, junto com as do Gilberto Braga, quase sempre excelentes. Queria ser amigo da Danuza Leão e uma vez perguntei à Fernanda Young se fumar sálvia dá mesmo barato (o que me rendeu uma dedicatória "É verdade, mas não espalha" em um livro que perdi). Adoro a Denise Stoklos, admiro demais o trabalho dos meninos do Luna Lunera. Gosto de feijoada e fui criado com goiabada cascão da minha avó. Quando escolhi o buffet de um coquetel, preferi purê de mandioquinha em vez de vols-au-vent. Amo cachaça e frango com ora-pro-nóbis, que na minha cidade é conhecido como lobrobrô. Coleciono música brega.

A lista não teria final hoje, e eu poderia terminar fazendo um manifesto Brasil-te-amo, com chapéu de cangaceiro e defendendo o artesanato do Vale do Jequitinhonha. O que não vai acontecer. Porque não gosto do artesanato do Vale, isso é público.

Porém não é só isso. Olha a contrapartida.

Sou fã de literatura descartável: crepúsculo, Harry Potter, Percy Jackson, diários de vampiro, Meg Cabot. Livros de faroeste e detetive, daqueles de bolso (alguns escritos por brasileiros, mas tudo com nome estrangeiro). Leio (ou li) Maurice Druon, Joseph Campbell, Fritjof Capra, Kafka, Garcia Márquez. Amo Bergman, escrito e filmado, e para mim Fanny & Alexander é o melhor filme de todos os tempos. Mais que Cidadão Kane. Queria ter sido amigo da Audrey Hepburn e adoraria contracenar com Meryl Streep. Milk-shake é uma invenção perfeita, eu tomaria um por dia se isso não me transformasse em um barril ambulante maior do que já sou. Adoro cinema francês e Edith Piaf, já comi escargot e gostei. Provavelmente viveria muito bem em Paris, Londres ou Praga. Gosto de Beatles, fui no show da Madonna, no dos Rolling Stones e me carregaram certa vez para o Deep Purple (mas desse não gostei). Chorei quando vi a Diamanda Galás. Arrependo até hoje de não ter ido ao show do Rufus Wainwright praticamente na porta da minha casa só porque estaria cheio demais e não foi quase ninguém. Ouço ABBA, Donna Summer e adoro disco music, principalmente para dançar. Coleciono dvds de séries americanas e amo desenho animado.

Mas não gosto de metal pesado, não gosto do Iron Maiden e acho Oasis e Sigur Rós um porre. Também não gosto de house, ou sei lá o que toca nessas festas que a gente entra, sai, e parece que não mudou a música hora nenhuma.

Daí que, para encerrar, eu me lembrei de uma conversa com uma historiadora amiga minha, a Adalgisa.

– Tá bom, Adalgisa. Ouro Preto é barroco. Mas e Ponte Nova, onde nasci, é o quê?
– Aquilo lá é ecletismo, uai!

E ficamos assim.

Perfil astral

Conforme a data do meu nascimento (21/07) sou do signo de câncer, ou caranguejo. Assim como os caranguejos tenho a casca dura, com o corpo totalmente protegido por uma carapaça e cinco pares de patas, o primeiro dos quais transformado em fortes pinças. A couraça do caranguejo serve, principalmente, para a defesa. O caranguejo, assim como o canceriano, é mole por dentro.

Segundo a Wikipedia, cancerianos são tímidos, misteriosos, e muito ligados às tradições. O humor do canceriano é extremamente mutável e em ocasiões tende a ser rabugento e agressivo, uma vez que sua necessidade de autodefesa (às vezes antes mesmo de ser atacado) é uma de suas características fundamentais. Oscila entre o júbilo e a depressão. Os cancerianos são muito fechados e costumam ser muito capacitados intelectualmente, extremamente ligados às artes, à música e à poesia. Na verdade, o canceriano é um chato que adora um drama. E tem uma tendência natural à alternância de personalidades. A Tara deve ser canceriana.

Um exercício interessante é o da desconstrução do canceriano. A do caranguejo, o bicho, costuma ser feita a marteladas. Só na base do porrete se chega ao interior mole e são poucos os que não gostam. Os mais preguiçosos já compram o caranguejo "catado" no mercado de peixes. Para se desconstruir um canceriano não precisa martelo. Até porque se você chegar com um martelo perto de um canceriano ele vai sair correndo. Qualquer pessoa com instinto de sobrevivência tende a fugir quando vê um martelo se aproximando, acredito.

O processo de fragmentação do canceriano é mais sutil, e se dá em etapas. À primeira vista um nativo de câncer (principalmente aqueles que, como eu, têm o signo de touro por ascendente) aparentam ser indóceis, agressivos e arredios. Com o verbo afiado. É tudo mentira. É tudo defesa. Mas o canceriano não pode saber disso. Para ele, armadura vestida é sinal de proteção. Tente tirar a armadura de uma vez só e você ganha um beliscão. Ele tem pinças, lembra? Cancerianos se desconstroem em etapas.

Seja inteligente, aprenda a trabalhar em um editor de imagens e descubra o que são layers. Canceriano funciona em layers, muitas vezes com várias camadas ocultas. Desnude-o devagar, sem pressa. A pressa é inimiga do canceriano, ser que gosta de culinária e que entende que todos os pratos têm um tempo ideal de cozimento. Mas que sabe que se cozinhar demais passa do ponto, queima.

Deixe-o achar que consegue controlar tudo. Canceriano detesta quando algo ocorre fora do programado, foge do padrão ideal que ele tem na cabeça e você, lógico, não sabe qual é. Problema seu, compre uma bola de cristal. Cancerianos são geniosos e difícieis de domar. E nada garante que, uma vez nos trilhos, ele não vá ficar novamente indócil. Canceriano é um animal de fases. Que vira e mexe adora subverter todas as regras do jogo, só para ficar mais divertido.

Por fim, perca o medo. Cancerianos acreditam em horóscopo mas não o seguem. E costumam ser mais simpáticos do que aparentam ser. Eu mesmo já ouvi de hoje grandes amigos que, quando me conheceram, me achavam totalmente insuportável. Na verdade eu o sou, mas me tornei um chato socialmente aceitável. Em tempo: de todos os caranguejos, o meu preferido é o guaiamum.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Antipatia

Li outro dia em um livro da Fernanda Young (Tudo que você não soube, Ediouro, 2007) que a personagem, o livro é uma narrativa em primeira pessoa, não fuma por questões estéticas. Porque não suporta a voz rouca pré-câncer das mulheres que fumam há não-sei-quantos anos. E que são, quase sempre, louras. Porque mulher não fica velha, fica loura. Resolvi exercitar (mais) o meu lado antipático de ser, e fazer uma pequena lista das minhas insuportabilidades. Esse texto deveria se chamar "Da insuportabilidade das coisas".

Homens de bigode, não suporto. Homens de bigode me lembram velhos e década de 1970, quando nasci. Eu tolero os velhos que usam bigode, como o meu avô. Fumantes com bigode amarelado por cigarro acho insuportáveis. Assim como esse povo da minha idade (ou menos) que insiste em usar bigode e aqueles óculos do tempo do onça e achar que estão ótimos, cools e cults. Não, não estão. Não para mim, pelo menos. Então você, magrelo, que usa bigode e óculos retrô parecendo tirados de um filme do Chevy Chase, saiba: eu não te suporto e não faço questão nenhuma em achar que o seu enfeiamento social seja algo útil. Porque, sério, bonita essa moda não é. Bonito no sentido estético, agradável aos olhos.

Pessoas tatuadas que se acham. Pessoas que se acham, no geral, mas principalmente as tatuadas mais antipáticas que eu. Ah sim eu tenho tatuagem, por isso tem dias que não me suporto – o que me levaria direto ao consultório psiquiátrico. Como não tenho dinheiro para pagar o médico, escrevo... E por pura antipatia (ou cortesia) você me lê.

Gente que escreve errado. O errado básico, entendam: exceção, chato, lagartixa, iogurte. A brochada mais fenomenal da minha vida foi quando vi um chato com xis – "xato". A pessoa ficou feia de repente, eu chegava perto e aquele xis parecia brotar na testa, pulsando. E sim, eu já fiz parte da comunidade Good writing is sexy, do tempo em que existia Orkut. Mas perdoo berinjelas e jilós, porque para essas palavras precisei consultar o dicionário. Até erros de concordância passa.

Mensagens edificantes em powerpoint e vídeos engraçados e piadas fantásticas e correntes de qualquer santo ou anjo que chegar no meu email. Xis delete. Vou passar a usar essa expressão "xis delete", gostei. Pus o meu tio na lista de pessoas que o e-mail vai direto pro lixo, e não abro 99% das mensagens da minha mãe. Pois é. Insuportável e intolerante, eu.

FM Itatiaia, depois que passou a transmitir a mesma programação da Itatiaia AM. Vulgo a rádio favorita dos taxistas. Porque me lembra trânsito e me lembra morrinha. Detesto engarrafamento, detesto buzina, detesto motoboy, detesto sinal fechado, detesto malabarista de sinal, detesto flanelinha. E não tenho carro. Carro em minha mão provavelmente deve virar arma. Entendo demais aquele jogo Carmageddon, que o cara sai atropelando deus e o mundo. Por isso nunca joguei. Medo de viciar naquilo e ir parar numa clínica de tratamento para dependentes de videogame.

Obra. Detesto obra, construção. Não quebro uma parede da minha casa para melhorar o sinal da tv a cabo porque sei que quando uma obra começa não acaba. Não gosto de pedreiros por associação. Pelo barulho que fazem, pelo transtorno que causam. Lugar em obra devia ser isolado do convívio social até ficar pronto. Meu sonho é comprar apartamento na planta e só mudar quando tudo estiver no lugar. Mentira. Meu sonho é comprar uma casa velha no centro da cidade e mandar reformar. Antes de me mudar, claro, e preferencialmente entregando o dinheiro na mão de algum arquiteto amigo meu. Porque eu e a obra somos como a lua e o sol: quando encontra dá eclipse.

Perfume vagabundo é outra coisa insuportável para mim, sou alérgico. No meu corpo só algo fraquinho ou Allure Homme, Chanel. Que é o que assenta bem e me dá o "meu cheiro tradicional". Pena que é caro demais para eu comprar aos litros. Não ter dinheiro é algo que não me agrada também, só que, convenhamos, tenho de agradecer muito por conseguir levar as coisas mais ou menos equilibradas. Não sei – mesmo – como alguém consegue viver com um salário mínimo e criar quatro filhos.

Para finalizar por hoje a lista de minhas insuportabilidades: pais permissivos, aqueles que acham natural o seu filho subir na cadeira do ônibus e puxar o cabelo do passageiro da frente (eu, no caso). Não, não é. Nada contra a criança puxar o seu cabelo uma vez. Acontece. Mas nesse ponto, e me perdoem pais, é igual treinar cachorro: viu fazendo errado tem de corrigir na hora. Preferencialmente fazendo a criança passar a vergonha de ir pedir desculpas à pessoa. Acho que nesse ponto minha mãe acertou: respeito demais as pessoas principalmente para não ter de ir pedir desculpas pelo transtorno causado. Porque sim, é algo que me deixa muito embaraçado. Sou tímido, apesar de sempre dizerem o contrário.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Mistérios

Meu primeiro texto de abril deveria ter sido uma homenagem que eu e meus irmãos fizemos a nossa mãe pelo seu 60 aniversário, ocorrido dia 1º. Não o é. O texto virá, mas não vai mais ser o primeiro de abril. Fica pra depois.

Hoje quero pensar um mistério. Não um mistério de Agatha Christie, porque nunca li nenhum. Para quem demorou 21 anos para assistir ET não é exatamente surpresa. Porque um mistério cabe bem para esse começo de segunda-parte de ano.

O mistério é simples, não é um koan: "o que eu realmente quero?"

O que não quero é fácil: não quero prazos curtos para nada, não quero pessoas doentes, não quero dias cinzas e tristes, não quero morrer sozinho, não quero tomar vacina.

O que quero é simples também: quero fazer vestibular, quero emagrecer o suficiente para sair da linha do infarto e diminuir o colesterol, quero uma filha.

Mas "o que eu realmente quero"? O que daria sentido ao fato de eu me levantar da cama e agradecer por estar vivo e por fazer diferença na vida de pelo menos uma pessoa?

Não sei. Os dias têm ficado chatos e cansativos. O trabalho não me dá mais o prazer que dava. O desafio virou excesso de carga, e isso nunca me é bom. Talvez esteja na hora de parar no espelho e me perguntar se estou em busca do que realmente quero.

Antes, porém, é preciso saber o que é. Aceito respostas.