terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Do vestibular

Belo Horizonte, todo começo de ano, tem uma campanha de popularização do teatro, com ingressos a preços populares para ninguém ter desculpa de não assistir pelo menos uma peça. Logicamente são rios de comédias, algumas anos a fio em cartaz como se fosse na Broadway, mas dá para peneirar algo interessante. Foi assim, por conta da campanha, que fui assistir à adaptação local do livro Máquina de Pinball, da Clarah Averbuck.

Essa não é outra crítica teatral, não sou Barbara Heliodora e não tenho pretensões a. Na verdade a citação à peça é para justificar de onde vi alguém falando que brasileiro tem neurose para chegar na frente. Então, foi lá. Um trio de atores dizendo que enquanto americano, europeu, tem fobia de terrorista, a neurose do brasileiro é esta: chegar primeiro. Sentar na cadeira da frente. Ocupar o banco mais alto do ônibus. Meter o carro em qualquer brecha de asfalto na rua para chegar antes, sabe-se lá o porquê. Só que é verdade e a gente alguma hora tem de parar para pensar qual tipo de educação damos, já que mudar cabeça de velho é mais difícil. Enfim.

Vestibular.

Comprei um livro do Luis Fernando Verissimo (Mais comédias para ler na escola) e ele fala em uma das crônicas do suplício do vestibular; que todo ano é aquele festival de cenas de gente chorando com o portão fechado no último minuto e os que terminam a prova ficam olhando para o infinito com "aquele ar de sobrevivente da Marcha da Morte de Bataan". Verissimo comenta também o personagem "mãe de vestibulando", geralmente uma figura mais nervosa que o próprio filho.

Daí que esse ano fiz vestibular. Eu que não tenho filhos e provavelmente não terei, aos 33 anos envolvido com dilema adolescente do mesmo jeito. Tirando que a coisa toda era "para mim". Eu, que não tenho diploma universitário (fui universitário, só não concluí o curso), resolvi dar uma chance ao acaso e — por que não? — mais uma vez me reinventar. O resultado ainda não saiu, parece que soltam a lista no fim do mês, mas tiro algumas conclusões óbvias. De que idade ajuda muito na hora de fazer a prova. E de que a coisa não é tão difícil quanto parece. Posso, claro, ter tirado um zero federal nas provas discursivas; o que não vai me impedir de dizer que elas são, até certo ponto, tranquilas.

Portanto qual seria o grande problema que transforma o tal concurso no purgatório de pais de adolescentes? (Porque os filhos, senhores pais, estão nem-aí para prova, fiquem sabendo... Eu estava lá.) Na minha opinião são pelo menos duas as razões do pavor. De que o filho seja burro (e com isso prove que os pais não cumpriram o seu dever social de educar — como se passar em vestibular fosse o exemplo supremo da educação). E, claro, a neurose tupiniquim que me mostraram na peça. Mas como assim meu filho não está na lista? Não está, senhora, não está. E agradeça porque ele não está e vai poder passar pelo menos mais um ano amadurecendo.

Admiro o hábito em alguns países (estou com a Inglaterra na cabeça, deve ter outros) de os filhos tirarem um período sabático antes de começarem os estudos ditos profissionalizantes, seja curso superior ou não. Eles vão viajar, passam um tempo em outro país, trabalham, vivem suas vidas. Porque, gente, hipocrisia de lado, aos 17-18 anos (idade que eu entrei na universidade) a garotada quer mais é beber vodka vagabunda, beijar na boca (mais de uma por noite, se puder), fumar sabe Deus o quê, tudo menos estudar. E estão todos exercendo seus plenos direitos de jovens recém-livres e emancipados. Vão quebrar a cara, claro... Quebrar a cara também é direito adquirido.

Mais uma vez em minha opinião, deveriam estabelecer idade mínima para se entrar na faculdade. Tem idade para dirigir, idade para beber, idade para ser Presidente da República; que estabeleçam faixa etária para universidade. Não precisa muito, 19 anos e está bom. Nem seria tão polêmico assim. E que nesse intervalo as pessoas possam acumular um pouco mais de bagagem. Para não dormir na aula de filosofia, ou para não ir fazer prova de política completamente de ressaca. Para pensar naquilo que realmente querem. Para poderem aproveitar melhor o dito curso superior, seja ele público ou não. E principalmente para darem um retorno de qualidade à sociedade. Não fiz pesquisa, mas alguém aí arrisca dizer quantos conhecidos fizeram uma faculdade e não exercem a profissão registrada no diploma? Então.

2 comentários:

rOsI disse...

Mas engana-se: na europa, EUA, aos 24 anos o cara já tem doutorado. Eles começam muito mais cedo...

Marcelo Belico disse...

Sim e não. Eu citei a Inglaterra porque tenho primos que nasceram lá. Os dois, como é costume, tiraram um tempo antes de começarem efetivamente os estudos. Minha prima foi fazer serviço voluntário na Nova Zelândia pra vc ter ideia. O resto da Europa realmente não sei como fazem, mas com certeza deve ter o país de doutores aos 24. Não era o foco que eu pretendia abordar.