Saindo atrasado e impaciente de casa, tento pegar táxi no lugar de sempre e a rua está, como em todas as sextas-feiras, inviável. Mudo o endereço e vou pegar o carro de praça em meio a um fluxo de gente digno de compras de Natal. E ônibus, muitos. Culpa de quem não sai de casa na hora marcada é trânsito ruim. Que o digam as manhãs de segundas e sextas. Dentro do táxi — e já sabendo que vou invariavelmente chegar fora do horário no trabalho como em todos os outros dias da semana — o motorista comenta sobre a falta de tempo.
Ele, diz, está há vinte anos na praça e antes tinha tempo para fazer suas corridas mais um monte de coisas. Hoje gasta o dia por conta do trabalho. Quase respondi eu também ao chofer, mas preferi render o assunto escutando o homem. Que (sorte) não estava com a Rádio Itatiaia ligada.
Sabemos que nosso tempo livre escasseou. A impressão que tive é que, como antes meus horários eram poucos para estudar e fazer nada, isso seria reflexo do ato de ficar adulto. Mas como um senhor na casa dos seus 50/55 anos, ainda não em vias de aposentar porém ao mesmo tempo com uma carreira de taxista bastante extensa, chega à mesma conclusão de alguém (no caso eu), com uma faixa etária diferente? Aí veio o medo: será que aos 55 anos estarei trabalhando muito mais que eu hoje aos 30 e poucos, o suficiente para reclamar que aos 30 a vida era mais folgada?
A situação piora um pouco quando me pego pensando que em novembro completo 15 anos de carreira no mercado editorial. Comecei em 1996 e olhando por esse viés os meus tempos ditos "livres" (e eram livres, eu ia ao cinema à tarde) foram também pontuados por trabalho. Ou seja, eu trabalhava, estudava, matava aula para ir ao boteco, marcava presença em festas e tinha o hábito de não sair sextas nem sábados, porque eram dias para amadores. Na verdade continuo achando isso.
Quando passamos minha vida para 2011 a rotina é casa, trabalho, cinema algumas vezes, casa. Deveria ter academia no meio do caminho, terá... (fazendo força para acreditar). Fim. Minha vida não tem festas maravilhosas ou baladas que viram a noite ou episódios memoráveis que renderiam roteiro. Daí a inveja.
Passeando por perfis de conhecidos (reduzi meus amigos para cerca de uma mão), todo mundo tem festa todo dia. Todo mundo é lindo, todo mundo tem mais dinheiro que eu, todo mundo pode tudo. Festa na terça? Estamos lá enchendo a cara — e não me perguntem a fórmula mágica para trabalhar na quarta-feira. Feriado? Emendamos. Férias? Três vezes por ano, pelo menos, com direito a uma viagem internacional e chuva de fotos. Et caetera. Fica a sensação de que o mundo inteiro é mais legal que você.
Conversando com uma amiga (tenho cinco dedos na mão) ela comenta que na verdade a gente tem uma sensação ampliada do que é de fato real. Que não, as pessoas não são tão interessantes quanto aparentam ser. Que não são tão bonitas quanto parecem, aliás. Mas mesmo assim fica para mim a impressão de ter deixado o meu bonde correr, e jogando para um devir pequenos prazeres que deveriam estar sendo aproveitados agora. Fica uma grande inveja de quem consegue administrar o tempo, ser lindo, descolado, bem relacionado e pagar todas as suas contas. Nesse quesito estou verde, muito verde.
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