As pessoas que nasceram no fim da década de 1970 no Brasil pegaram, em sua infância, o movimento Diretas Já, eleição e morte de Tancredo Neves e mais uma grande crise econômica que levou a certa perda de poder aquisitivo da então classe média. Quem não se lembra dos preços tabelados, ou ainda das corridas aos supermercados em busca de preço baixo, com direito a estocagem doméstica de produtos? Eu lembro muito bem de, na casa da minha tia, ter uma parte do maleiro do armário cheia de papel higiênico e latas de leite condensado.
Ao mesmo tempo, as crianças dessa época foram as primeiras "vítimas" de uma revolução nas propagandas, com um alto investimento em produtos e seus respectivos anúncios voltados ao público infantil. Não esqueça a minha Caloi, chicletes Ploc, Clube do Bocão da gelatina Royal, concurso da maionese Hellman's para dar um robô que era a cara do C3PO (e até hoje lembro o nome que venceu: Jecanauta). Não sei se havia alguma regulamentação na época, sei que eu via muita tevê e que sim, a mídia levava os filhos a infernizarem seus pais atrás de porcarias definitivamente indispensáveis. A coisa foi evoluindo e com o tempo, já com a entrada do Conar, comerciais como os da tesourinha do Mickey saíram de cena.
Como um bom nascido em 1977, e com 33 anos prematuramente assumidos (na verdade só faço 33 em julho), fui uma dessas "vítimas". E como toda boa criança infernal (e mimada), tive acesso, quando possível, a um monte de besteiras. Como aquele estojo paraguaio horrível que a gente apertava botões e os compartimentos abriam. Quem nunca viu a monstruosidade de perto? Eu tive um, e era rosa.
Obviamente esse introito não é justificativo para um delito que cometi na infância: eu roubei um ovo de páscoa. Não me perguntem a razão, talvez pela crise econômica, ou talvez por ter sido uma criança gorda, o fato é que nunca ganhei, de criança, um ovo de páscoa. Entendam como ovo de páscoa aquilo que fica dependurado no teto das Lojas Americanas, o pequenininho não vale. Foi exato assim: entrei no supermercado, peguei o ovo e saí. Claro que todo mundo viu, só que na minha cabeça eu estava fazendo algo erradíssimo (continua sendo erradíssimo), mas que ninguém teria como descobrir.
Escondi o ovo por alguns dias na casa da minha tia, disse que tinha sido presente de alguém, só o comi no domingo de páscoa. Passei uns bons tempos sem me confessar, para não contar ao padre que tinha roubado um ovo de páscoa, e acho que o perdão desse crime veio em alguma confissão comunitária, aliás o meu tipo preferido até hoje. Eu e Deus resolvemos o assunto sem precisar dizer ao padre, geralmente amigo da minha mãe, os muitos pecados cometidos.
Ter roubado aquele ovo de páscoa, ao contrário do que pode parecer, não me transformou em marginal. A "culpa" daquele ovo ainda é tão grande que antes eu tivesse tomado uma surra naquele tempo. Simplesmente ninguém disse nada. Nada. Até hoje não sei, aliás, mãe, você que está aí me lendo agora, sabia que eu já roubei um ovo de páscoa? Enfim. Depois que mudei para Belo Horizonte, descobri que praticamente todos os meus colegas de colégio já tinham roubado bombom nas Lojas Americanas e o peso da culpa diminuiu.
Porém o castigo do ovo existiu e não foi uma grande dor de barriga (o ovo, acho, até que era gostoso): eu virei uma pessoa automaticamente honesta. Como se houvesse algo superior me vigiando e esperando a minha próxima escorregadela. Exemplo: na semana passada fui buscar um pedido de radiografia para uma amiga e o porteiro do prédio me entregou um envelope, daqueles de depósito em banco, com dinheiro dentro. Eu não raciocinei quanto à possibilidade de ir embora com o envelope. Foi instantâneo: "Não, moço, eu vim buscar o envelope da Dra. Alessandra, sala 319, não é esse". Mesma coisa outro dia no restaurante: o dono digitou errado o valor, R$10 a menos, avisei o erro. Virei um chato. Devolvo troco a mais, corro atrás de gente que esquece a bolsa no ônibus, e nunca achei dinheiro na rua para ter a oportunidade de pensar se devolvo ou não ao dono. Provavelmente devolvo, se souber quem é o dono, claro.
Da mesma forma não sou afeito a injustiças, em todos os níveis e seja com quem for. Alguns trâmites da vida, que alguns encaram como "simples" ou "normais", podem virar extremo sofrimento para mim, quase como psicopatia. O errado ganha extrema relevância, grita como sirene de polícia em meu ouvido. O que me levou a afirmar que não trabalho para o Edir Macedo, nem por um milhão de dólares ao mês. Vai contra a minha índole.
A questão do ovo também levou a outra válvula de escape. Agora que posso, todo ano passo nas Lojas Americanas e compro ovos de páscoa. Aliás esse ano vou fazer diferente, não vou comprar. Minha irmã vai ficar mais triste, mas paciência. Vou usar o dinheiro do ovo para outra coisa qualquer, e terá provavelmente o mesmo efeito. É uma tentativa de superar um lugar-comum da minha geração nos dias de hoje. Se você tem por volta dos 30 anos, dê uma conferida no que tem comprado que com certeza vai achar coisas idênticas, com os mesmos personagens, ou muito parecidas com aquelas que você não podia ter na infância. Ou você acha mesmo que lançaram os dvds do He-Man para as crianças de hoje poderem assistir?
quinta-feira, 25 de março de 2010
quinta-feira, 18 de março de 2010
Macabéa
Por enquanto Macabéa não passava de um vago sentimento nos paralelepípedos sujos. (...)
Vivo meu momento Macabéa. Não que eu tenha saído do Nordeste para trabalhar no Rio, nem que eu tenha conseguido um emprego como datilógrafo em uma firma de representantes de roldanas. Não. Eu vivo de metáforas.
Não se assustem se amanhã ou depois virem no jornal de R$0,25 que um homem foi atropelado por um Mercedes-Benz e esse blog parar de receber meus escritos. Estarei morto.
Vivo meu momento Macabéa em fim de livro. Para quem não leu A hora da estrela, saiba que Macabéa é atropelada, e morre, saindo da cartomante. Pronto contei o final. Mas é como o final de Titanic, todo mundo sabia que o Leonardo Di Caprio ia morrer e foi ao cinema assim mesmo. Filas para verem navio afundar. Importante é o percurso, nunca o fim. Até porque o fim, no fim, é mesmo a morte. Menos para Elvis Presley.
Vivo meu momento Macabéa engravidado de futuro. Encantado com a possibilidade de um futuro.
Tanto estava viva que se mexeu devagar e acomodou o corpo em posição fetal. Grotesca como sempre fora. Aquela relutância em ceder, mas aquela vontade do grande abraço. Ela se abraçava a si mesma com vontade do doce nada. Era uma maldita e não sabia. (...)
Macabéa precisava morrer porque para ela a ilusão de futuro já bastava. A promessa de felicidade bastava. Quanto a mim dirá o destino. Mas sim, depois dos dias cinza o céu já está entre nuvens em Belo Horizonte, e um pouco de azul aparece.
Imagine um jogo de ligar os pontos. Você, criança, abre a página do livro de colorir e lá está aquele tanto de ponto incompreensível numerado. Quando se ligam os pontos aparece o desenho: um cachorrinho, um gatinho, a Branca de Neve. Isso quando você não faz como eu, que ligava os números em vez dos pontos e me dava por satisfeito. Porque importante era ligar, não era ter uma figura bonita depois. Isso diz mais que o suficiente de mim, tanto que pensei duas vezes antes de publicar.
Metaforicamente falando, a vida é um jogo de pontos. A gente vê um panorama e pensa o que fazer com aquilo. Porque, para dificultar, o jogo de pontos chega sem números e sem o lápis. Então a gente passa pelos pontos, e demora um tempo enorme para entender o que fazer com aquilo. De repente, no susto, tudo começa a fazer sentido. E o lápis apareceu.
O processo de ligar pontos pode ou não acontecer. E, claro, como os pontos não são numerados, a gente sempre pode fazer o desenho errado. Mas o importante, sempre, é o processo. E por ter percebido, tão cedo, tão cedo mesmo, qual o meu processo, eu hoje estou feliz e com medo. Feliz por enfim conseguir enxergar algo lá na frente. Com medo de um caminhão fenemê me atropelar.
(...) O instante é aquele átimo de tempo em que o pneu do carro correndo em alta velocidade toca no chão e depois não toca mais e depois toca de novo. Etc., etc., etc. No fundo ela não passara de uma caixinha de música meio desafinada.
Eu vos pergunto:
- Qual é o peso da luz?
E agora - agora só me resta acender um cigarro e ir para casa. Meu Deus, só agora me lembrei que a gente morre. Mas - mas eu também?!
Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos.
Sim.
Por enquanto, e por enquanto, é tempo de morangos. As citações são de A Hora da Estrela, da Clarice Lispector. E esse layout novo, ainda em fase de adaptações, é da Rosi. A quem dedico esse texto.
Vivo meu momento Macabéa. Não que eu tenha saído do Nordeste para trabalhar no Rio, nem que eu tenha conseguido um emprego como datilógrafo em uma firma de representantes de roldanas. Não. Eu vivo de metáforas.
Não se assustem se amanhã ou depois virem no jornal de R$0,25 que um homem foi atropelado por um Mercedes-Benz e esse blog parar de receber meus escritos. Estarei morto.
Vivo meu momento Macabéa em fim de livro. Para quem não leu A hora da estrela, saiba que Macabéa é atropelada, e morre, saindo da cartomante. Pronto contei o final. Mas é como o final de Titanic, todo mundo sabia que o Leonardo Di Caprio ia morrer e foi ao cinema assim mesmo. Filas para verem navio afundar. Importante é o percurso, nunca o fim. Até porque o fim, no fim, é mesmo a morte. Menos para Elvis Presley.
Vivo meu momento Macabéa engravidado de futuro. Encantado com a possibilidade de um futuro.
Tanto estava viva que se mexeu devagar e acomodou o corpo em posição fetal. Grotesca como sempre fora. Aquela relutância em ceder, mas aquela vontade do grande abraço. Ela se abraçava a si mesma com vontade do doce nada. Era uma maldita e não sabia. (...)
Macabéa precisava morrer porque para ela a ilusão de futuro já bastava. A promessa de felicidade bastava. Quanto a mim dirá o destino. Mas sim, depois dos dias cinza o céu já está entre nuvens em Belo Horizonte, e um pouco de azul aparece.
Imagine um jogo de ligar os pontos. Você, criança, abre a página do livro de colorir e lá está aquele tanto de ponto incompreensível numerado. Quando se ligam os pontos aparece o desenho: um cachorrinho, um gatinho, a Branca de Neve. Isso quando você não faz como eu, que ligava os números em vez dos pontos e me dava por satisfeito. Porque importante era ligar, não era ter uma figura bonita depois. Isso diz mais que o suficiente de mim, tanto que pensei duas vezes antes de publicar.
Metaforicamente falando, a vida é um jogo de pontos. A gente vê um panorama e pensa o que fazer com aquilo. Porque, para dificultar, o jogo de pontos chega sem números e sem o lápis. Então a gente passa pelos pontos, e demora um tempo enorme para entender o que fazer com aquilo. De repente, no susto, tudo começa a fazer sentido. E o lápis apareceu.
O processo de ligar pontos pode ou não acontecer. E, claro, como os pontos não são numerados, a gente sempre pode fazer o desenho errado. Mas o importante, sempre, é o processo. E por ter percebido, tão cedo, tão cedo mesmo, qual o meu processo, eu hoje estou feliz e com medo. Feliz por enfim conseguir enxergar algo lá na frente. Com medo de um caminhão fenemê me atropelar.
(...) O instante é aquele átimo de tempo em que o pneu do carro correndo em alta velocidade toca no chão e depois não toca mais e depois toca de novo. Etc., etc., etc. No fundo ela não passara de uma caixinha de música meio desafinada.
Eu vos pergunto:
- Qual é o peso da luz?
E agora - agora só me resta acender um cigarro e ir para casa. Meu Deus, só agora me lembrei que a gente morre. Mas - mas eu também?!
Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos.
Sim.
Por enquanto, e por enquanto, é tempo de morangos. As citações são de A Hora da Estrela, da Clarice Lispector. E esse layout novo, ainda em fase de adaptações, é da Rosi. A quem dedico esse texto.
terça-feira, 16 de março de 2010
Verbi gratia
Cecília Meireles já disse ter fases, como a lua. Depois disso não há como qualquer canceriano se apropriar da constante mutação do satélite para justificar suas oscilações de humor sem soar no mínimo clichê. Mas como todo bom canceriano — Cecília era escorpiana de sete de novembro, a contrário de mim — eu tenho sim fases. Fases de muito mau humor como os dias de agora. Dias em que tudo se transforma em objeto de irritação, e que uma pessoa normal, se fosse sua amiga, diria: procure o analista. Dias em que a voz dos outros incomoda. Dias em que você quer estar apenas com você mesmo, preferencialmente isolado do mundo, metido em alguma caixa branca. Assim estou: insuportável. Até para mim.
Talvez, e muito provavelmente, eu esteja assim porque a realidade anda insistindo demais em aparecer escancarada em minha frente. Estúpida. Justo eu que prefiro metáforas, mais inteligentes e mais intrigantes. Nunca menos doloridas. Vivo aqueles dias em que o espelho teima em avisar para ficar em casa ou desaparecer sem aviso prévio. Mas o barulho do martelo dos pedreiros no andar de cima (isso não é uma metáfora) me persegue tanto no trabalho quanto em casa, impossível fugir. Ponho o pé na rua e logo vem o gosto amargo de se estar em um dia cinza e nublado e com chuva. Pessoas como eu de mau humor são uma festa para as confeitarias. Desconto tudo no açúcar, com 4.5% de culpa devidamente queimada em uma esteira por 30 minutos suados.
O açúcar me alivia da serra elétrica, dos clientes ansiosos, dos limites estourados e dos prazos curtos. Mas não alivia de às vezes a vida cuspir na sua cara que você é um bosta. Com o perdão do termo. Hoje estou, ou quem sabe sempre tenha sido, um bosta. Paradoxalmente eu sei que não o sou, dispenso isso da caixa de comentários. Porém nada alivia o azedume de me sentir assim nesse momento. Claro que, como sempre, por coisinhas estúpidas como um telefonema. Provavelmente a minha mãe me educou bem demais para ser grosseiro, ou provavelmente a minha índole me impeça, por vezes, de ser indelicado. Só sei ser grosseiro e rude, só sei dar patadas entre aqueles que amo. Para todos os outros sempre serei no mínimo gentil e cortês.
De todo modo, a minha mãe também sabe que eu não tolero falta de justiça por muito tempo. Por isso preciso expurgar meus traumas de infância, nem que seja por aqui, e rasgar um mundo de verbos estrangulados por mais de trinta anos. Fiquem todos então sabendo:
Não sou, nunca serei, não pretendo ser igual a ninguém. Não tenho vontade de ser nada além de eu mesmo: nunca quis ser médico. Não quero ser químico da Fiat e ter uma família perfeita com dois filhos perfeitos. Não sou perfeito, me orgulho muito disso. A vida não me educou para o sonho de consumo americano. Larguei a faculdade porque quis, não me formei porque não quis. Da mesma forma que parei de fumar porque quis, e não porque "alguém disse que faz mal". Mas emagreci porque a médica não deu opção. Não sei dirigir. Nunca tive vontade de dirigir. Não quero ter um carro para me dar despesas, já bastam as minhas cachorras. Se eu puder optar por uma despesa fixa, escolho ter uma filha. Quero uma filha. Talvez eu volte a estudar Direito um dia. Gosto muito do meu trabalho, mesmo acontecendo horas em que tenho vontade de largar tudo, de parar com tudo. Como agora, quando eu devia estar cuidando de coisas mais urgentes do que fazer um texto insano que ninguém vai entender. Mas no fim, mesmo, sabe por que eu não sou um bosta? Porque, ao contrário de tanta gente, são poucos os que dão opinião na minha vida. Porque, no fim, mais que muitos, eu consigo ser reconhecido por aquilo que deveria ser inerente a todos: a minha individualidade. E em ser eu mesmo eu sou melhor que todo mundo. Portanto, por favor, respeito a mim, e aos meus. Senão vou esquecer os princípios da boa educação e partir pra briga, seja com quem for.
Agora copiar isso e colar na porta do armário do quarto, fazer de papel de parede no desktop, gravar em mp3 e ouvir até internalizar, na mais pura programação neurolinguística. E lembrar que as coisas vêm e vão. E, principalmente, mau humor engorda. Vamos cuidar então da vida.
Em tempo: em mais uma coisa sou contrário a Cecília Meireles. Dizem que ela adorava pedreiros. Eu não os suporto.
Talvez, e muito provavelmente, eu esteja assim porque a realidade anda insistindo demais em aparecer escancarada em minha frente. Estúpida. Justo eu que prefiro metáforas, mais inteligentes e mais intrigantes. Nunca menos doloridas. Vivo aqueles dias em que o espelho teima em avisar para ficar em casa ou desaparecer sem aviso prévio. Mas o barulho do martelo dos pedreiros no andar de cima (isso não é uma metáfora) me persegue tanto no trabalho quanto em casa, impossível fugir. Ponho o pé na rua e logo vem o gosto amargo de se estar em um dia cinza e nublado e com chuva. Pessoas como eu de mau humor são uma festa para as confeitarias. Desconto tudo no açúcar, com 4.5% de culpa devidamente queimada em uma esteira por 30 minutos suados.
O açúcar me alivia da serra elétrica, dos clientes ansiosos, dos limites estourados e dos prazos curtos. Mas não alivia de às vezes a vida cuspir na sua cara que você é um bosta. Com o perdão do termo. Hoje estou, ou quem sabe sempre tenha sido, um bosta. Paradoxalmente eu sei que não o sou, dispenso isso da caixa de comentários. Porém nada alivia o azedume de me sentir assim nesse momento. Claro que, como sempre, por coisinhas estúpidas como um telefonema. Provavelmente a minha mãe me educou bem demais para ser grosseiro, ou provavelmente a minha índole me impeça, por vezes, de ser indelicado. Só sei ser grosseiro e rude, só sei dar patadas entre aqueles que amo. Para todos os outros sempre serei no mínimo gentil e cortês.
De todo modo, a minha mãe também sabe que eu não tolero falta de justiça por muito tempo. Por isso preciso expurgar meus traumas de infância, nem que seja por aqui, e rasgar um mundo de verbos estrangulados por mais de trinta anos. Fiquem todos então sabendo:
Não sou, nunca serei, não pretendo ser igual a ninguém. Não tenho vontade de ser nada além de eu mesmo: nunca quis ser médico. Não quero ser químico da Fiat e ter uma família perfeita com dois filhos perfeitos. Não sou perfeito, me orgulho muito disso. A vida não me educou para o sonho de consumo americano. Larguei a faculdade porque quis, não me formei porque não quis. Da mesma forma que parei de fumar porque quis, e não porque "alguém disse que faz mal". Mas emagreci porque a médica não deu opção. Não sei dirigir. Nunca tive vontade de dirigir. Não quero ter um carro para me dar despesas, já bastam as minhas cachorras. Se eu puder optar por uma despesa fixa, escolho ter uma filha. Quero uma filha. Talvez eu volte a estudar Direito um dia. Gosto muito do meu trabalho, mesmo acontecendo horas em que tenho vontade de largar tudo, de parar com tudo. Como agora, quando eu devia estar cuidando de coisas mais urgentes do que fazer um texto insano que ninguém vai entender. Mas no fim, mesmo, sabe por que eu não sou um bosta? Porque, ao contrário de tanta gente, são poucos os que dão opinião na minha vida. Porque, no fim, mais que muitos, eu consigo ser reconhecido por aquilo que deveria ser inerente a todos: a minha individualidade. E em ser eu mesmo eu sou melhor que todo mundo. Portanto, por favor, respeito a mim, e aos meus. Senão vou esquecer os princípios da boa educação e partir pra briga, seja com quem for.
Agora copiar isso e colar na porta do armário do quarto, fazer de papel de parede no desktop, gravar em mp3 e ouvir até internalizar, na mais pura programação neurolinguística. E lembrar que as coisas vêm e vão. E, principalmente, mau humor engorda. Vamos cuidar então da vida.
Em tempo: em mais uma coisa sou contrário a Cecília Meireles. Dizem que ela adorava pedreiros. Eu não os suporto.
quarta-feira, 10 de março de 2010
Cardisplicente
Esse fim de semana fui rever, devidamente acompanhado, a montagem belorizontina da peça Brasileiro, profissão esperança, do Paulo Pontes. Que fala sobre Dolores Duran, a quem tenho aprendido a amar, e sobre Antônio Maria, de quem nunca tinha lido nada até o momento. O que é um erro. Antônio Maria devia ser lido e republicado frequentemente. Devia estar naquela série "Para gostar de ler" que tem na biblioteca da escola. Como eu tinha gostado da peça o bastante para ir ver de novo, logicamente eu já tinha baixado a trilha do espetáculo original, com Clara Nunes e Paulo Gracindo, encenada em um tempo em que eu não era ainda vivo.
Ontem, depois de muito tentar o rapidshare (ele não é mais meu amigo), enfim peguei para ouvir a versão mais recente, não sei exato a data, com Gracindo Jr. e Bibi Ferreira. Logicamente esperava por um texto semelhante, mesmo sabendo que haveria alterações. O próprio Paulo Pontes teria dito que o texto, para ser reencenado, precisaria sempre de ajustes. Recomendo ouvir tanto a versão inicial quanto a mais atual. Basta procurar no Um que tenha. Lá tem as duas.
Daí que o texto é outro. Quer dizer, é o mesmo, mas aumentado, e com uma picardia de humor do excelente entrosamento entre o Gracindo Jr. e a Bibi. Como foi gravado ao vivo, existem alguns cacos que deixam a própria Bibi Ferreira desconcentrada em cena. Se a versão de Paulo e Clara é irretocável, a de Bibi com Gracindo Jr. fica marcada por um traço de improvisação e um quase deboche delicioso. Mas com todo o respeito, claro. Até porque pedir a Bibi Ferreira para cantar como Clara Nunes seria, no mínimo, idiotice.
No começo da peça, Gracindo Jr. diz uma crônica do Antônio Maria – ele era cronista, compositor, humorista, amava com a vida toda e escrevia à máquina com dois dedos – que não fez parte nem do disco original e nem da peça que assisti no domingo passado. O texto, que não achei na internet e gastei um tempo bom digitando, segundo o áudio, teria sido publicado em 1960, no jornal Última Hora:
Tem coisas que eu não entendo. Por que "Brasil"? Sabem os senhores porque esse país se chama Brasil? Por causa do primeiro pau que Cabral avistou ao desembarcar aqui. O pau-brasil. Agora, e se esse primeiro não tivesse sido o brasil? Se tivesse sido um pé de mandioca, por exemplo? A nossa virilidade estaria irremediavelmente comprometida! O cidadão, para dizer que gosta da sua terra, teria que falar: "Eu sou vidrado na mandioca!" As senhoras, todas interessadas nos destinos da nação, teriam todo o direito em dizer: "É por isso que essa mandioca não levanta!" E, para fortuna nossa, Cabral não viu de cara a mexerica, porque hoje teríamos uma nação de mexeriqueiros. Por esse critério, o do primeiro pau, o nosso país hoje poderia de chamar pindoba, mangaba, aroeira, jaqueira, coqueiro. Ou simplesmente coco. Aliás, bonito nome para um país: Coco. Só que relações diplomáticas com a França jamais.
E se Cabral tivesse visto, de saída, um pé de abacaxi? Brasília, 1º de janeiro de um ano qualquer. O presidente que sai, ao passar o governo ao presidente que entra, pronuncia as seguintes palavras: "Excelência, tenho a honra de passar o abacaxi para vossas mãos." Nós temos sorte, nós temos muita sorte. Hoje nós poderíamos ser os goiabas, os abacates, os bananas... Nós poderíamos ter o nome de uma fruta qualquer. Vocês já imaginaram, na copa do mundo, um placar como esse: "Escócia dois, Carambola zero"? E pra fortuna nossa, Cabral não viu, de saída, um pau desconhecido, que ele só soubesse identificar por sinônimo. Porque hoje seríamos a República dos Estados Unidos do Cacete!
Estaria tudo bem se eu não tivesse escutado a fala acima dependurado no Grávitron (para quem não sabe o que é, clique aqui, vá no meu blog do ano passado e descubra). Pois viver é pagar mico, e eu perdi a concentração, comecei a rir igual a um boboca, e quase despenquei de cima da máquina, estabacando no solo em plena hora de pico da malhação. Mas ainda não foi dessa vez que dei show por lá. Porque sim, já caí da esteira alguns anos atrás.
Ontem, depois de muito tentar o rapidshare (ele não é mais meu amigo), enfim peguei para ouvir a versão mais recente, não sei exato a data, com Gracindo Jr. e Bibi Ferreira. Logicamente esperava por um texto semelhante, mesmo sabendo que haveria alterações. O próprio Paulo Pontes teria dito que o texto, para ser reencenado, precisaria sempre de ajustes. Recomendo ouvir tanto a versão inicial quanto a mais atual. Basta procurar no Um que tenha. Lá tem as duas.
Daí que o texto é outro. Quer dizer, é o mesmo, mas aumentado, e com uma picardia de humor do excelente entrosamento entre o Gracindo Jr. e a Bibi. Como foi gravado ao vivo, existem alguns cacos que deixam a própria Bibi Ferreira desconcentrada em cena. Se a versão de Paulo e Clara é irretocável, a de Bibi com Gracindo Jr. fica marcada por um traço de improvisação e um quase deboche delicioso. Mas com todo o respeito, claro. Até porque pedir a Bibi Ferreira para cantar como Clara Nunes seria, no mínimo, idiotice.
No começo da peça, Gracindo Jr. diz uma crônica do Antônio Maria – ele era cronista, compositor, humorista, amava com a vida toda e escrevia à máquina com dois dedos – que não fez parte nem do disco original e nem da peça que assisti no domingo passado. O texto, que não achei na internet e gastei um tempo bom digitando, segundo o áudio, teria sido publicado em 1960, no jornal Última Hora:
Tem coisas que eu não entendo. Por que "Brasil"? Sabem os senhores porque esse país se chama Brasil? Por causa do primeiro pau que Cabral avistou ao desembarcar aqui. O pau-brasil. Agora, e se esse primeiro não tivesse sido o brasil? Se tivesse sido um pé de mandioca, por exemplo? A nossa virilidade estaria irremediavelmente comprometida! O cidadão, para dizer que gosta da sua terra, teria que falar: "Eu sou vidrado na mandioca!" As senhoras, todas interessadas nos destinos da nação, teriam todo o direito em dizer: "É por isso que essa mandioca não levanta!" E, para fortuna nossa, Cabral não viu de cara a mexerica, porque hoje teríamos uma nação de mexeriqueiros. Por esse critério, o do primeiro pau, o nosso país hoje poderia de chamar pindoba, mangaba, aroeira, jaqueira, coqueiro. Ou simplesmente coco. Aliás, bonito nome para um país: Coco. Só que relações diplomáticas com a França jamais.
E se Cabral tivesse visto, de saída, um pé de abacaxi? Brasília, 1º de janeiro de um ano qualquer. O presidente que sai, ao passar o governo ao presidente que entra, pronuncia as seguintes palavras: "Excelência, tenho a honra de passar o abacaxi para vossas mãos." Nós temos sorte, nós temos muita sorte. Hoje nós poderíamos ser os goiabas, os abacates, os bananas... Nós poderíamos ter o nome de uma fruta qualquer. Vocês já imaginaram, na copa do mundo, um placar como esse: "Escócia dois, Carambola zero"? E pra fortuna nossa, Cabral não viu, de saída, um pau desconhecido, que ele só soubesse identificar por sinônimo. Porque hoje seríamos a República dos Estados Unidos do Cacete!
Estaria tudo bem se eu não tivesse escutado a fala acima dependurado no Grávitron (para quem não sabe o que é, clique aqui, vá no meu blog do ano passado e descubra). Pois viver é pagar mico, e eu perdi a concentração, comecei a rir igual a um boboca, e quase despenquei de cima da máquina, estabacando no solo em plena hora de pico da malhação. Mas ainda não foi dessa vez que dei show por lá. Porque sim, já caí da esteira alguns anos atrás.
quinta-feira, 4 de março de 2010
45 notas pouco hipócritas (todo mundo sabe mas esqueceu)
1. Vai chover justo no dia em que você esquece o guarda-chuva.
2. Existe um mundo encantado para onde vão guarda-chuvas, meias e canetas bic.
3. Sim, existem pessoas privilegiadas nesse mundo. Você, provavelmente, não é uma delas.
4. Também existe um mundo melhor no qual as pessoas compram chaveiros por 700 dólares e tomam cerveja com a Hebe Camargo.
5. A coisa mais imbecil do mundo é não escutar os seus pais. Você só vai aprender isso depois de velho.
6. Portanto, se a sua mãe mandar levar uma blusa de frio, leve uma blusa de frio.
7. É mais fácil tomar um choque no banheiro que ganhar na mega-sena, nem por isso deixe de tomar banho.
8. É mais fácil ganhar na mega-sena que morrer num acidente de avião, nem por isso deixe de ter medo de voar.
9. Já joguei na mega-sena, hoje em dia esqueci. Quando lembro, ainda jogo.
10. Se deu certo da primeira vez foi por pura sorte. Portanto, vai dar errado a qualquer momento.
11. Principalmente se for tentativa de assalto, sequestro ou algo ilícito.
12. Quando der muita vontade de comprar, o certo é não comprar. Espere 3 dias para ver se a vontade continua.
13. Eu não professo a verdade acima.
14. Aos 20 anos você pode tudo, mas não tem dinheiro para nada.
15. Aos 30 anos você acha que pode, mas é tanta conta para pagar que o trabalho esgota toda a sua energia.
16. Todo mundo já fez mais de uma loucura na vida.
17. 99% das pessoas adultas que você encontra na rua já fizeram sexo.
18. Mulheres grávidas fazem sexo.
19. Mais da metade dos adolescentes que você encontra na rua também já fez sexo. 100% pensam em sexo, o que explica as notas baixas na escola.
20. Santa só a minha mãe, e olhe lá (Rita Lee).
21. O sistema de ensino brasileiro não leva em conta que criança e adolescente precisa dormir mais que os adultos. Por isso as torturantes aulas de sete da manhã.
22. Você não vai mudar o mundo. Você não vai mudar o modo como o mundo pensa. Mas você pode fazer a diferença para aqueles que quer bem, e isso é o mais importante.
23. Case-se.
24. Se não deu certo, separe-se o mais rápido que puder. E não tenha medo de casar de novo.
25. Nada que você não tente umas duzentas vezes é impossível. Pode dar certo na primeira tentativa, mas é pura sorte.
26. Tenha um amor de cada vez, mas não dedique 100% do afeto à pessoa amada.
27. Existem família, filhos, amigos, cachorro, gato, papagaio precisando de você.
28. Importante é fazer café e fritar ovo. Para o resto existe delivery.
29. Os desenhos animados de antigamente eram muito melhores que os de hoje.
30. O que não significa que bebês sejam burros. Eles provavelmente já sabem programar o vídeo-cassete.
31. Faça um plano de metas anual e guarde numa gaveta. Volte um ano depois para ler, e você vai tomar um choque. Eu faço. E tomo.
32. Nunca releia os seus diários antes de passados 20 anos, para não se achar um completo imbecil.
33. Elogie em público, repreenda pessoalmente num canto.
34. Pessoas não mordem.
35. Se você tiver muito medo de alguém, imagine essa pessoa no banheiro fazendo o número dois. (Rosiane Pacheco)
36. Imagine a Gisele Bündchen no banheiro fazendo o número dois.
37. Dê quatro ou cinco boas risadas por dia, mas chore quando tiver vontade.
38. Saiba pedir perdão, e dê o braço a torcer o quanto precisar.
39. Seja flexível, pratique yoga se for o caso.
40. Todo mundo vai morrer um dia. Torça para seus pais morrerem primeiro que você.
41. Pelo menos 2% dos seus colegas de colégio ou de faculdade já morreram.
42. Independente da idade, o seu pai ou a sua mãe vão te matar de vergonha enquanto viverem.
43. É mais fácil aprender na base do amor, mas são os traumas que marcam a sua vida.
44. Lembra de quando te passaram a mão na cabeça? Pois é. Mas aquela surra merecida você não esquece nunca mais.
45. Duas últimas lições importantes: "do chão não passa" e "viver é pagar mico".
2. Existe um mundo encantado para onde vão guarda-chuvas, meias e canetas bic.
3. Sim, existem pessoas privilegiadas nesse mundo. Você, provavelmente, não é uma delas.
4. Também existe um mundo melhor no qual as pessoas compram chaveiros por 700 dólares e tomam cerveja com a Hebe Camargo.
5. A coisa mais imbecil do mundo é não escutar os seus pais. Você só vai aprender isso depois de velho.
6. Portanto, se a sua mãe mandar levar uma blusa de frio, leve uma blusa de frio.
7. É mais fácil tomar um choque no banheiro que ganhar na mega-sena, nem por isso deixe de tomar banho.
8. É mais fácil ganhar na mega-sena que morrer num acidente de avião, nem por isso deixe de ter medo de voar.
9. Já joguei na mega-sena, hoje em dia esqueci. Quando lembro, ainda jogo.
10. Se deu certo da primeira vez foi por pura sorte. Portanto, vai dar errado a qualquer momento.
11. Principalmente se for tentativa de assalto, sequestro ou algo ilícito.
12. Quando der muita vontade de comprar, o certo é não comprar. Espere 3 dias para ver se a vontade continua.
13. Eu não professo a verdade acima.
14. Aos 20 anos você pode tudo, mas não tem dinheiro para nada.
15. Aos 30 anos você acha que pode, mas é tanta conta para pagar que o trabalho esgota toda a sua energia.
16. Todo mundo já fez mais de uma loucura na vida.
17. 99% das pessoas adultas que você encontra na rua já fizeram sexo.
18. Mulheres grávidas fazem sexo.
19. Mais da metade dos adolescentes que você encontra na rua também já fez sexo. 100% pensam em sexo, o que explica as notas baixas na escola.
20. Santa só a minha mãe, e olhe lá (Rita Lee).
21. O sistema de ensino brasileiro não leva em conta que criança e adolescente precisa dormir mais que os adultos. Por isso as torturantes aulas de sete da manhã.
22. Você não vai mudar o mundo. Você não vai mudar o modo como o mundo pensa. Mas você pode fazer a diferença para aqueles que quer bem, e isso é o mais importante.
23. Case-se.
24. Se não deu certo, separe-se o mais rápido que puder. E não tenha medo de casar de novo.
25. Nada que você não tente umas duzentas vezes é impossível. Pode dar certo na primeira tentativa, mas é pura sorte.
26. Tenha um amor de cada vez, mas não dedique 100% do afeto à pessoa amada.
27. Existem família, filhos, amigos, cachorro, gato, papagaio precisando de você.
28. Importante é fazer café e fritar ovo. Para o resto existe delivery.
29. Os desenhos animados de antigamente eram muito melhores que os de hoje.
30. O que não significa que bebês sejam burros. Eles provavelmente já sabem programar o vídeo-cassete.
31. Faça um plano de metas anual e guarde numa gaveta. Volte um ano depois para ler, e você vai tomar um choque. Eu faço. E tomo.
32. Nunca releia os seus diários antes de passados 20 anos, para não se achar um completo imbecil.
33. Elogie em público, repreenda pessoalmente num canto.
34. Pessoas não mordem.
35. Se você tiver muito medo de alguém, imagine essa pessoa no banheiro fazendo o número dois. (Rosiane Pacheco)
36. Imagine a Gisele Bündchen no banheiro fazendo o número dois.
37. Dê quatro ou cinco boas risadas por dia, mas chore quando tiver vontade.
38. Saiba pedir perdão, e dê o braço a torcer o quanto precisar.
39. Seja flexível, pratique yoga se for o caso.
40. Todo mundo vai morrer um dia. Torça para seus pais morrerem primeiro que você.
41. Pelo menos 2% dos seus colegas de colégio ou de faculdade já morreram.
42. Independente da idade, o seu pai ou a sua mãe vão te matar de vergonha enquanto viverem.
43. É mais fácil aprender na base do amor, mas são os traumas que marcam a sua vida.
44. Lembra de quando te passaram a mão na cabeça? Pois é. Mas aquela surra merecida você não esquece nunca mais.
45. Duas últimas lições importantes: "do chão não passa" e "viver é pagar mico".
quarta-feira, 3 de março de 2010
Tabu tatoo
Para começar não, não sou jornalista. Não tenho comprometimento com verdade, com verossimilhança nem com coerência. Muito menos com imparcialidade. Não procuro ter. Gesto meus textos com pressa depois de ruminar dois ou três dias o escrito na minha cabeça. Sim, este parágrafo que você lê aqui, agora, foi pensado por mim no domingo. Só chegou até aqui porque "vingou" e acabou tomando forma de expressão fora do pensamento. Depois de escrever reviso, corto todos os "eus" que insistem em aparecer e me deixar com cara de narcisista antipático. Não, eu não sou antipático, apesar de parecer a maior parte vezes. E não, eu não quero nem pretendo fazer você acreditar nisso. Até porque para as pessoas me acharem simpático é preciso uma ou duas garrafas de cerveja, e eu não posso mais beber. Também corto o excesso de adjetivos. Sou um escrevente medíocre condenado à sobriedade.
Quando em vez me lançam perguntas que tenho vontade de responder de imediato. Como no texto de ontem (misteriosamente até agora não taxado de preconceituoso ou excludente por vivalma), no qual o Leo me questionou por que não comentei nada sobre tatuagens. Talvez ele se lembre, talvez não, tatuagens não fazem parte de meu repertório. O que não me impede de tentar, até porque tenho uma tatuagem, nas costas. Quem quiser ver é só clicar aqui. Um Sagrado Coração de Jesus, a única ilustração que eu tinha certeza na época de que não me arrependeria em fazer. E que me diria algo. Vivo esquecendo dela, coitada. Perdida em um ponto estratégico (e cego), só a vejo no espelho, e tem hora que me assusto "nossa, uma tatuagem".
Tatuagens são, para mim, roupas definitivas. Doem para serem vestidas, doem também para serem retiradas, a um preço alto. Tatuagem deve ser a única roupa que o preço é maior para tirar. Assim como roupas, as tatuagens passam alguma informação (frase completamente dispensável). E assim como as roupas, tatuagens foram feitas para serem vistas. Não concordo com quem diga o contrário. Exemplo: você tem o braço coberto de desenho, mais algumas frases escritas no ombro, taca um vestido vermelho floral de alcinha e vai dizer que não quer aparecer e está assim só para si própria? Fique em casa e feche as cortinas. Ponha uma burca para ir ao supermercado. Na rua o povo vai olhar. Mesmo.
Admiro quem tenha a coragem de revestir o ombro com um dragão ou o que o valha e expor. Atitude que não tenho, meu coração só aparece em público nas praias ou piscinas, assim mesmo quando estou com o corpo mais ou menos em dia. Sou da tribo dos tatuados enrustidos, o desenho sempre debaixo de algum pano. Admiro quem tenha a paciência para responder sempre às mesmas perguntas, quem tatuou, quanto foi etc. O que não deixa, por outro lado, de ser pretexto para cantada. Vai dizer que um "posso pôr a mão?", dependendo que quem disser, não acaba por ser bem-vindo? Mas admiro muito mais, mesmo, aquele que encara suas tatuagens (e a vida) com bom humor. Tatuagem é prerrogativa individual, pessoal, intransferível. Que aplicada sobre a pele, uma "coisa pública" (entre aspas para nenhum jurista vir defender a coisa pública), faz aumentar a visibilidade de quem sabe se impor e tem personalidade. Aí não tem jeito, todo mundo vai mesmo perguntar, nem que seja só para puxar papo. E receber uma resposta bem-humorada é muito melhor que ouvir palavrão ou tomar tapa na cara.
Já era para eu ter uma segunda tatuagem, uma cobra na perna que me prometi faz um ano. Nem tenho medo da dor. Nem da situação de permanência da ilustração na canela. O que me falta, no momento, é tempo. Em suas várias acepções. Por enquanto a cobra na perna vai ficando para os meus 35 anos. Se o mundo durar até lá.
Quando em vez me lançam perguntas que tenho vontade de responder de imediato. Como no texto de ontem (misteriosamente até agora não taxado de preconceituoso ou excludente por vivalma), no qual o Leo me questionou por que não comentei nada sobre tatuagens. Talvez ele se lembre, talvez não, tatuagens não fazem parte de meu repertório. O que não me impede de tentar, até porque tenho uma tatuagem, nas costas. Quem quiser ver é só clicar aqui. Um Sagrado Coração de Jesus, a única ilustração que eu tinha certeza na época de que não me arrependeria em fazer. E que me diria algo. Vivo esquecendo dela, coitada. Perdida em um ponto estratégico (e cego), só a vejo no espelho, e tem hora que me assusto "nossa, uma tatuagem".
Tatuagens são, para mim, roupas definitivas. Doem para serem vestidas, doem também para serem retiradas, a um preço alto. Tatuagem deve ser a única roupa que o preço é maior para tirar. Assim como roupas, as tatuagens passam alguma informação (frase completamente dispensável). E assim como as roupas, tatuagens foram feitas para serem vistas. Não concordo com quem diga o contrário. Exemplo: você tem o braço coberto de desenho, mais algumas frases escritas no ombro, taca um vestido vermelho floral de alcinha e vai dizer que não quer aparecer e está assim só para si própria? Fique em casa e feche as cortinas. Ponha uma burca para ir ao supermercado. Na rua o povo vai olhar. Mesmo.
Admiro quem tenha a coragem de revestir o ombro com um dragão ou o que o valha e expor. Atitude que não tenho, meu coração só aparece em público nas praias ou piscinas, assim mesmo quando estou com o corpo mais ou menos em dia. Sou da tribo dos tatuados enrustidos, o desenho sempre debaixo de algum pano. Admiro quem tenha a paciência para responder sempre às mesmas perguntas, quem tatuou, quanto foi etc. O que não deixa, por outro lado, de ser pretexto para cantada. Vai dizer que um "posso pôr a mão?", dependendo que quem disser, não acaba por ser bem-vindo? Mas admiro muito mais, mesmo, aquele que encara suas tatuagens (e a vida) com bom humor. Tatuagem é prerrogativa individual, pessoal, intransferível. Que aplicada sobre a pele, uma "coisa pública" (entre aspas para nenhum jurista vir defender a coisa pública), faz aumentar a visibilidade de quem sabe se impor e tem personalidade. Aí não tem jeito, todo mundo vai mesmo perguntar, nem que seja só para puxar papo. E receber uma resposta bem-humorada é muito melhor que ouvir palavrão ou tomar tapa na cara.
Já era para eu ter uma segunda tatuagem, uma cobra na perna que me prometi faz um ano. Nem tenho medo da dor. Nem da situação de permanência da ilustração na canela. O que me falta, no momento, é tempo. Em suas várias acepções. Por enquanto a cobra na perna vai ficando para os meus 35 anos. Se o mundo durar até lá.
terça-feira, 2 de março de 2010
O que não vestir
Outro dia no twitter fui um dos que reencaminharam a mensagem: "A crocs vai doar milhares de pares de calçados aos haitianos. Já não basta os caras estarem na merda, precisa usar crocs?" Brincadeiras à parte, a iniciativa da empresa é boa, politicamente correta etc. Mas não importa. Nem se eu estivesse no Haiti, descalço, com os pés sangrado, usaria crocs. Pode ser confortável, pode ser bom, tenho amigo que usa, mas em mim não. Porque são muito feias, caramba. E também porque não ficam bem em mim. Penso que, num futuro próximo, os crocs serão vistos assim como as ombreiras da década de 1980. Algo como "gente, mas usavam isso mesmo?" ou algo do gênero. Tinha até sutiã com ombreira, lembram disso meninas?
Quem convive comigo consegue facilmente identificar meu estilo de todo dia: jeans, camiseta básica com alguma estampa (ou não), e atualmente, em função da academia, tênis de corrida. Quando não vou malhar troco os tênis por algum calçado do qual eu goste e que não me dê a sensação que daqui cinco minutos vou subir na esteira. E, apesar de manter o armário lotado, possuo a péssima mania de achar que estou com pouca roupa. Tenho pensamento feminino para roupas. Nunca entendi tão bem uma propaganda quanto aquela em que a mulher está parada em frente um armário; o namorado vê um guarda-roupa lotado, e ela olhando o móvel vazio, aquele monte de cabides sem nada para vestir.
Quem encontra comigo frequentemente também já reparou que não uso várias coisas, além de crocs (e pantufas). Camisetas regatas, ou ainda aquelas conhecidas como "machão", ou qualquer tipo de camisa que não cubra parte do meu braço. Nem é porque não tenho nada para mostrar, e sim porque me dá uma horrorosa sensação de vergonha, igual aqueles pesadelos em que a gente está sem roupa em público. Algo a ser analisado em terapia daqui dez, vinte anos. Calças xadrez jamais. Também não uso chapéu, boné, presilha, arco, tiara, touca, nada na cabeça além de cabelo. Provavelmente porque tenho cabeça grande, em um tamanho acima do padrão Brasil, e tudo fica apertado para mim. Nunca pus um chapéu ou similar que não me incomodasse o suficiente para eu querer tirar agora por favor. O mesmo se aplica a anéis e pulseiras. Invejo quem consegue usar um anel qualquer por horas a fio sem sentir um peso enorme nas mãos e coceira no dedo. Nunca tentei algemas, nem quero. Minha tolerância máxima continua sendo um único brinco, pequeno, na orelha esquerda. Hábito cada vez mais raro agora que trabalho com advogados. Mas pelo menos não preciso usar terno ou roupa "social".
Como viver é pagar mico, até chegar ao meu senso individual de vestir, passei por ridículos e afins. O maior erro da minha vida, até hoje, foi uma calça de Bali comprada em Guarapari que a vendedora jurou que estava bonito. Para um palhaço talvez. Até hoje não entendo que entidade incorporou em mim para eu dar dinheiro naquela coisa de seda estampada em todas as cores possíveis e mais algumas fora do espectro de visão humana. Usei duas vezes, paguei o mico e passei adiante, não sei onde foi parar. Provavelmente virou pano de chão. Serviu para eu parar de confiar em vendedor. Fora isso, as vergonhas de sempre que todo mundo da minha idade passou: calça baggy, mochila e carteira "da Company", "camiseta de terceiro ano do colégio" com gola canoa, tênis All-Star de cano longo, bota de sete léguas (nunca vou chamar isso de galocha) amarela, relógio de trocar pulseira, camisões estampados (Fido Dido, lembra Cris?), uma jardineira verde-exército que eu amava, roupas rasgadas em geral. E, para terminar, o famoso corte de cabelo em cuia, daqueles que pareciam que o cabeleireiro colocou uma tigela na cabeça da gente e passou máquina no resto.
Provavelmente daqui uns anos muito do que visto hoje vai ser vergonha alheia, e vamos ver as fotos dessa época rindo igual quando pegamos retratos da nossa tia de legging e polainas, em plena época da novela Baila Comigo e da Jane Fonda em vídeo de aeróbica. Até lá, vamos vestindo. Meu sonho de consumo atualmente é uma camiseta escrita não fui eu, inspirado por uma parecida que vi em um clipe da Adriana Calcanhotto.
Quem convive comigo consegue facilmente identificar meu estilo de todo dia: jeans, camiseta básica com alguma estampa (ou não), e atualmente, em função da academia, tênis de corrida. Quando não vou malhar troco os tênis por algum calçado do qual eu goste e que não me dê a sensação que daqui cinco minutos vou subir na esteira. E, apesar de manter o armário lotado, possuo a péssima mania de achar que estou com pouca roupa. Tenho pensamento feminino para roupas. Nunca entendi tão bem uma propaganda quanto aquela em que a mulher está parada em frente um armário; o namorado vê um guarda-roupa lotado, e ela olhando o móvel vazio, aquele monte de cabides sem nada para vestir.
Quem encontra comigo frequentemente também já reparou que não uso várias coisas, além de crocs (e pantufas). Camisetas regatas, ou ainda aquelas conhecidas como "machão", ou qualquer tipo de camisa que não cubra parte do meu braço. Nem é porque não tenho nada para mostrar, e sim porque me dá uma horrorosa sensação de vergonha, igual aqueles pesadelos em que a gente está sem roupa em público. Algo a ser analisado em terapia daqui dez, vinte anos. Calças xadrez jamais. Também não uso chapéu, boné, presilha, arco, tiara, touca, nada na cabeça além de cabelo. Provavelmente porque tenho cabeça grande, em um tamanho acima do padrão Brasil, e tudo fica apertado para mim. Nunca pus um chapéu ou similar que não me incomodasse o suficiente para eu querer tirar agora por favor. O mesmo se aplica a anéis e pulseiras. Invejo quem consegue usar um anel qualquer por horas a fio sem sentir um peso enorme nas mãos e coceira no dedo. Nunca tentei algemas, nem quero. Minha tolerância máxima continua sendo um único brinco, pequeno, na orelha esquerda. Hábito cada vez mais raro agora que trabalho com advogados. Mas pelo menos não preciso usar terno ou roupa "social".
Como viver é pagar mico, até chegar ao meu senso individual de vestir, passei por ridículos e afins. O maior erro da minha vida, até hoje, foi uma calça de Bali comprada em Guarapari que a vendedora jurou que estava bonito. Para um palhaço talvez. Até hoje não entendo que entidade incorporou em mim para eu dar dinheiro naquela coisa de seda estampada em todas as cores possíveis e mais algumas fora do espectro de visão humana. Usei duas vezes, paguei o mico e passei adiante, não sei onde foi parar. Provavelmente virou pano de chão. Serviu para eu parar de confiar em vendedor. Fora isso, as vergonhas de sempre que todo mundo da minha idade passou: calça baggy, mochila e carteira "da Company", "camiseta de terceiro ano do colégio" com gola canoa, tênis All-Star de cano longo, bota de sete léguas (nunca vou chamar isso de galocha) amarela, relógio de trocar pulseira, camisões estampados (Fido Dido, lembra Cris?), uma jardineira verde-exército que eu amava, roupas rasgadas em geral. E, para terminar, o famoso corte de cabelo em cuia, daqueles que pareciam que o cabeleireiro colocou uma tigela na cabeça da gente e passou máquina no resto.
Provavelmente daqui uns anos muito do que visto hoje vai ser vergonha alheia, e vamos ver as fotos dessa época rindo igual quando pegamos retratos da nossa tia de legging e polainas, em plena época da novela Baila Comigo e da Jane Fonda em vídeo de aeróbica. Até lá, vamos vestindo. Meu sonho de consumo atualmente é uma camiseta escrita não fui eu, inspirado por uma parecida que vi em um clipe da Adriana Calcanhotto.
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