terça-feira, 2 de março de 2010

O que não vestir

Outro dia no twitter fui um dos que reencaminharam a mensagem: "A crocs vai doar milhares de pares de calçados aos haitianos. Já não basta os caras estarem na merda, precisa usar crocs?" Brincadeiras à parte, a iniciativa da empresa é boa, politicamente correta etc. Mas não importa. Nem se eu estivesse no Haiti, descalço, com os pés sangrado, usaria crocs. Pode ser confortável, pode ser bom, tenho amigo que usa, mas em mim não. Porque são muito feias, caramba. E também porque não ficam bem em mim. Penso que, num futuro próximo, os crocs serão vistos assim como as ombreiras da década de 1980. Algo como "gente, mas usavam isso mesmo?" ou algo do gênero. Tinha até sutiã com ombreira, lembram disso meninas?

Quem convive comigo consegue facilmente identificar meu estilo de todo dia: jeans, camiseta básica com alguma estampa (ou não), e atualmente, em função da academia, tênis de corrida. Quando não vou malhar troco os tênis por algum calçado do qual eu goste e que não me dê a sensação que daqui cinco minutos vou subir na esteira. E, apesar de manter o armário lotado, possuo a péssima mania de achar que estou com pouca roupa. Tenho pensamento feminino para roupas. Nunca entendi tão bem uma propaganda quanto aquela em que a mulher está parada em frente um armário; o namorado vê um guarda-roupa lotado, e ela olhando o móvel vazio, aquele monte de cabides sem nada para vestir.

Quem encontra comigo frequentemente também já reparou que não uso várias coisas, além de crocs (e pantufas). Camisetas regatas, ou ainda aquelas conhecidas como "machão", ou qualquer tipo de camisa que não cubra parte do meu braço. Nem é porque não tenho nada para mostrar, e sim porque me dá uma horrorosa sensação de vergonha, igual aqueles pesadelos em que a gente está sem roupa em público. Algo a ser analisado em terapia daqui dez, vinte anos. Calças xadrez jamais. Também não uso chapéu, boné, presilha, arco, tiara, touca, nada na cabeça além de cabelo. Provavelmente porque tenho cabeça grande, em um tamanho acima do padrão Brasil, e tudo fica apertado para mim. Nunca pus um chapéu ou similar que não me incomodasse o suficiente para eu querer tirar agora por favor. O mesmo se aplica a anéis e pulseiras. Invejo quem consegue usar um anel qualquer por horas a fio sem sentir um peso enorme nas mãos e coceira no dedo. Nunca tentei algemas, nem quero. Minha tolerância máxima continua sendo um único brinco, pequeno, na orelha esquerda. Hábito cada vez mais raro agora que trabalho com advogados. Mas pelo menos não preciso usar terno ou roupa "social".

Como viver é pagar mico, até chegar ao meu senso individual de vestir, passei por ridículos e afins. O maior erro da minha vida, até hoje, foi uma calça de Bali comprada em Guarapari que a vendedora jurou que estava bonito. Para um palhaço talvez. Até hoje não entendo que entidade incorporou em mim para eu dar dinheiro naquela coisa de seda estampada em todas as cores possíveis e mais algumas fora do espectro de visão humana. Usei duas vezes, paguei o mico e passei adiante, não sei onde foi parar. Provavelmente virou pano de chão. Serviu para eu parar de confiar em vendedor. Fora isso, as vergonhas de sempre que todo mundo da minha idade passou: calça baggy, mochila e carteira "da Company", "camiseta de terceiro ano do colégio" com gola canoa, tênis All-Star de cano longo, bota de sete léguas (nunca vou chamar isso de galocha) amarela, relógio de trocar pulseira, camisões estampados (Fido Dido, lembra Cris?), uma jardineira verde-exército que eu amava, roupas rasgadas em geral. E, para terminar, o famoso corte de cabelo em cuia, daqueles que pareciam que o cabeleireiro colocou uma tigela na cabeça da gente e passou máquina no resto.

Provavelmente daqui uns anos muito do que visto hoje vai ser vergonha alheia, e vamos ver as fotos dessa época rindo igual quando pegamos retratos da nossa tia de legging e polainas, em plena época da novela Baila Comigo e da Jane Fonda em vídeo de aeróbica. Até lá, vamos vestindo. Meu sonho de consumo atualmente é uma camiseta escrita não fui eu, inspirado por uma parecida que vi em um clipe da Adriana Calcanhotto.

2 comentários:

shikida disse...

vc esqueceu de falar sobre tatuagens

Marcelo Belico disse...

Tatuagens são caso a parte, por serem roupas definitivas até certo ponto. Mas virão.