quarta-feira, 3 de março de 2010

Tabu tatoo

Para começar não, não sou jornalista. Não tenho comprometimento com verdade, com verossimilhança nem com coerência. Muito menos com imparcialidade. Não procuro ter. Gesto meus textos com pressa depois de ruminar dois ou três dias o escrito na minha cabeça. Sim, este parágrafo que você lê aqui, agora, foi pensado por mim no domingo. Só chegou até aqui porque "vingou" e acabou tomando forma de expressão fora do pensamento. Depois de escrever reviso, corto todos os "eus" que insistem em aparecer e me deixar com cara de narcisista antipático. Não, eu não sou antipático, apesar de parecer a maior parte vezes. E não, eu não quero nem pretendo fazer você acreditar nisso. Até porque para as pessoas me acharem simpático é preciso uma ou duas garrafas de cerveja, e eu não posso mais beber. Também corto o excesso de adjetivos. Sou um escrevente medíocre condenado à sobriedade.

Quando em vez me lançam perguntas que tenho vontade de responder de imediato. Como no texto de ontem (misteriosamente até agora não taxado de preconceituoso ou excludente por vivalma), no qual o Leo me questionou por que não comentei nada sobre tatuagens. Talvez ele se lembre, talvez não, tatuagens não fazem parte de meu repertório. O que não me impede de tentar, até porque tenho uma tatuagem, nas costas. Quem quiser ver é só clicar aqui. Um Sagrado Coração de Jesus, a única ilustração que eu tinha certeza na época de que não me arrependeria em fazer. E que me diria algo. Vivo esquecendo dela, coitada. Perdida em um ponto estratégico (e cego), só a vejo no espelho, e tem hora que me assusto "nossa, uma tatuagem".

Tatuagens são, para mim, roupas definitivas. Doem para serem vestidas, doem também para serem retiradas, a um preço alto. Tatuagem deve ser a única roupa que o preço é maior para tirar. Assim como roupas, as tatuagens passam alguma informação (frase completamente dispensável). E assim como as roupas, tatuagens foram feitas para serem vistas. Não concordo com quem diga o contrário. Exemplo: você tem o braço coberto de desenho, mais algumas frases escritas no ombro, taca um vestido vermelho floral de alcinha e vai dizer que não quer aparecer e está assim só para si própria? Fique em casa e feche as cortinas. Ponha uma burca para ir ao supermercado. Na rua o povo vai olhar. Mesmo.

Admiro quem tenha a coragem de revestir o ombro com um dragão ou o que o valha e expor. Atitude que não tenho, meu coração só aparece em público nas praias ou piscinas, assim mesmo quando estou com o corpo mais ou menos em dia. Sou da tribo dos tatuados enrustidos, o desenho sempre debaixo de algum pano. Admiro quem tenha a paciência para responder sempre às mesmas perguntas, quem tatuou, quanto foi etc. O que não deixa, por outro lado, de ser pretexto para cantada. Vai dizer que um "posso pôr a mão?", dependendo que quem disser, não acaba por ser bem-vindo? Mas admiro muito mais, mesmo, aquele que encara suas tatuagens (e a vida) com bom humor. Tatuagem é prerrogativa individual, pessoal, intransferível. Que aplicada sobre a pele, uma "coisa pública" (entre aspas para nenhum jurista vir defender a coisa pública), faz aumentar a visibilidade de quem sabe se impor e tem personalidade. Aí não tem jeito, todo mundo vai mesmo perguntar, nem que seja só para puxar papo. E receber uma resposta bem-humorada é muito melhor que ouvir palavrão ou tomar tapa na cara.

Já era para eu ter uma segunda tatuagem, uma cobra na perna que me prometi faz um ano. Nem tenho medo da dor. Nem da situação de permanência da ilustração na canela. O que me falta, no momento, é tempo. Em suas várias acepções. Por enquanto a cobra na perna vai ficando para os meus 35 anos. Se o mundo durar até lá.

Nenhum comentário: