Entre meus herdados está o caderno de culinária que foi de minha bisavó. Muito provavelmente devo ter escrito algo sobre esse caderno em outro lugar, usando a seguinte descrição: velho, páginas amarelas, capa marrom e receitas incompreensíveis. Praticamente um livro de bruxaria familiar. Nunca fiz nem vou fazer metade das receitas de lá, mas sei exatamente como preparar praticamente todas elas. Até mesmo a que se resume em uma lista de três ingredientes, nada mais. Minha bisavó não escrevia o modo de fazer as receitas. Seria óbvio demais. Qualquer dia publico alguma receita que funcione por aqui, hoje não.
Hoje importa, mais que o velho caderno de receitas, uma reflexão sobre o tempo de preparo dos alimentos. Considero de essencial importância que todo mundo, pelo menos uma vez, experimente algo na cozinha. Ferver o leite, que seja, ou cozinhar um ovo. Algo simples. Com o único objetivo de perceber que tudo demora um tempo específico para chegar ao ponto correto. Se uma peça de carne fica por pouco tempo no forno vai chegar crua à mesa. E vai queimar se ficou tempo demais. Parece claro e simples, e é.
O difícil, por vezes, é transcender o conceito simplista da bancada de cozinha e entender que o tempo de preparo vai para além dos alimentos. Que a espera deixa a fruta mais madura e com mais polpa. Que o tempo, em si, é extremamente necessário: para assar carnes, amadurecer laranjas, curar feridas e estiar enchentes. Mas que a espera em demasia deixa a carne ressecada, a laranja passada, a ferida apodrecida e as lagoas secas. Saber o tempo exato das coisas é um dom. Que pode ser apreendido na beira do fogão.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário