Na fila do restaurante, um homem espera a namorada ou colega de trabalho pagar a conta do almoço dos dois. Enquanto isso ele confere e manda mensagens no celular. A cena causa algum estranhamento? A mim causou. Não pelo fato de a moça estar pagando a conta do companheiro. Já passamos da época em que isso faz diferença. E sim pelo rapaz em pé, no meio da fila, sem tomar conhecimento do resto do mundo. Veio minha vez de pagar a conta e um sujeito maior que eu barrando o caminho, cheio de gente atrás.
Isso é exemplo típico do que passei a chamar de autismo social, ou excesso de individualismo. Pessoas que simplesmente pararam de se importar com a convivência em sociedade, e desfilam seus micro-universos independentes pelo planeta Terra. Não tenho interesse em qualquer dissertação sobre o tema, para isso existe a faculdade que nunca vou terminar. Porém, ou a minha rabugice aumentou ou está cada vez maior o número de pessoas mal-educadas soltas pela cidade. Ou os dois.
Quando se pensa em "falta de educação" a associação mais comum, para muita gente que mora aqui em BH, é "trânsito". Fizeram até matéria no jornal local sobre isso. Qualquer um tem uma história para contar, dos já manjados motoboys arrancando quando atravessamos a rua na faixa de pedestres até casos como a vez em que eu e uma amiga grávida quase fomos atropelados por uma mulher que dirigia falando ao celular.
Mas dá para elencar uma série de pequenas grosserias muito menos agressivas que um atropelamento. Aquele que fura fila. Que põe a bolsa para almoçar no restaurante para marcar lugar (ainda vou criar coragem e sentar na mesa com a bolsa, só para testar a reação da pessoa). Que grita no meio da rua às quatro da manhã. Que toca o interfone e sai correndo (sim, isso existe até hoje. O espírito da roça não abandona a cidade, e todo mundo parece que ama apertar um botão). Que isso. Que aquilo. E que incomodam sim.
A impressão que fica é a de um esvaziamento constante da delicadeza. Da diminuição do sentido de cortesia, da individualidade suprema exercida em detrimento do respeito ao próximo. Muito provavelmente as professoras dessas criaturas devem ter se esquecido de passar no quadro aquela frase clichê dos meus tempos de escola: "a liberdade de um termina quando começa a do outro". E os pais? Deviam estar ocupados demais para lembrar.
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Um comentário:
é engraçado, a gente não consegue ficar sem.
vai pro reader, quando eu botar em ordem os e-mails que mando pra mim mesmo com endereços imperdíveis, blogs que compensam o feed, burocracias e pequenos prazeres que ficam pra dipois.
bejo.
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