terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Na Sapucaí

Diga espelho meu se há na avenida alguém mais feliz que eu. A União da Ilha voltou ao grupo especial das escolas de samba, e abriu o desfile cantando o samba-enredo "É hoje" como aquecimento. A avenida Sapucaí toda cantou junto, eu inclusive. Foi a minha primeira vez na passarela do samba aqui no Rio de Janeiro. Vim para o carnaval, volto para Minas nessa quarta-feira de cinzas. Fui assistir a uma das noites dos desfiles, ingressos comprados na sorte, por telefone, dentro da cota dos 20% de bilhetes separados para moradores de outros estados. A cota dos cariocas se esgotou em 30 minutos na época. Mais rápido que show artista pop. Eu não entendia o porquê.

Explicar desfile de escola de samba é algo inútil. Acho que a melhor definição seria o que um colega de arquibancada disse: "isso aqui é um Maracanã mais organizado!" Nunca fui em uma partida no Maracanã, mas deve ser isso mesmo. Uma multidão aglomerada para o maior show da terra, do qual ela é, além espectador, parte fundamental. Porque o desfile, que é (ou deveria ser) feito para o público, só vai funcionar se o público responder. Pode ter o melhor samba, e as fantasias mais bonitas que, se o público não abraça a causa da escola naquele momento e se a arquibancada não pulsa junto, o desfile soa frio e distante. Deve ter sido triste para a Beija-Flor, por exemplo, ver o sambódromo se esvaziando com a passagem da escola. Torcedores partindo antes do fim do jogo.

Assistir às escolas de samba desfilar é algo que todo mundo deveria fazer uma vez na vida, pelo menos. Preferencialmente antes da terceira idade, e fora do dia das campeãs. Claro que dá para ver da tevê, mas a televisão faz algo muito ruim para o espetáculo: retira das escolas a grande democracia que a gente sentada ali assistindo, percebe. Não sou capaz de dizer que tal artista estava ali, e não fosse o Samuel do meu lado me chamando a atenção – "olha o Zico", "ali é o Eri Johnson com a presidente do Salgueiro", "aquela é a Viviane Araújo" –, eu não ia ser capaz de falar sobre nenhuma celebridade. O que é maravilhoso. Ver aquele mundo de gente defendendo a camisa de sua escola, cada um consciente de sua importância, ver cada um se sentindo fundamental naqueles 20 e poucos minutos na avenida, brigando pela sua bandeira, é encantador. E ter a consciência de seu papel enquanto espectador é glorioso. O carnaval democratiza a alegria e isso, e só por isso, já é muito bom.

Também existe ainda, no meu caso, a realização de uma vontade pessoal. Quando a Ilha começou a cantar o refrão lá de cima os meus olhos se encheram de água e eu me senti parte de algo grandioso. Chorei umas duas ou três vezes de alegria. Se deus quiser e quando eu puder farei de novo. Preferencialmente trazendo mãe, irmã, gato, cachorro e papagaio comigo. Aumentando o congestionamento das linhas telefônicas da liga das escolas de samba. Vale a pena. Vale muito a pena. Experimente.

2 comentários:

shikida disse...

Acho que a Lud teve impressão parecida da vez em que ela foi ver um jogo do Galo no Mineirão ;-)

Pergunte a ela...

Unknown disse...

Fui o ano passado e gostei muito. É muito emocionante.