segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Shades

Eu uso óculos escuros. De grau. Se você tivesse acesso à mala de fotos que guardo embaixo da cama, veria que eu praticamente nasci de óculos. Desde os quatro anos eles estão lá: uma hora com tapa-olho, outra com esparadrapo na lente, e depois só eles, os óculos. Em diversas formas e modelos, porque acho que uma das coisas que mais fiz na vida foi quebrar óculos.

Só que, quando eu era criança, não podia usar óculos escuros. Porque, logicamente, todo mundo tinha óculos de plástico, e eu não enxergava nada com aquela coisa. Então não usava. Daí que fiquei velho e, em algum surto de tirania com a minha tia-avó, pedi para ganhar óculos de grau, como outros quaisquer, mas também uma armação com lentes escuras. E assim é até hoje. A diferença é que agora pago por eles.

Óculos escuros são absurdamente úteis para nos livrar de situações constrangedoras. Quando, por exemplo, o vendedor de balas entra no ônibus. Basta encostar a cabeça no vidro da janela e fim. Não precisa fingir que está dormindo e ele não te incomoda. Ou quando aparece alguma vista interessante no horizonte (entenda como quiser). Óculos escuros, cara de paisagem e fim: estamos todos livres de bolsadas, safanões, "que é que você está olhando?" e tudo mais.

Meus óculos são o meu escudo na jornada de observação das ruas de todo dia.

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